Espinosa afirma: Deus
possui infinitos atributos, dos quais conhecemos apenas dois: a extensão e o
pensamento. Pensamento e extensão , mente e corpo, são partes da Natureza ( enquanto natura naturada), não
são a Natureza inteira ( a Natura Naturante).
Devemos tomar o máximo
cuidado, por isso mesmo, para não querermos imaginar os outros atributos que
não conhecemos, como se a imaginação pudesse mais do que o conhecimento nesse
campo.
Decerto que a imaginação pode coisas diferentes daquelas que pode o conhecimento, porém poder coisas diferentes não significa poder mais naquilo que apenas o conhecer pode.
Se cedermos à tentação e acharmos que a imaginação poderá imaginar o que o conhecimento não pode conhecer, começaremos a duvidar da própria potência do pensar, atribuindo deficiência ao pensamento de pensar/conhecer uma realidade mais elevada, que somente a imaginação poderia alcançar, de tal modo que acabaremos por diminuir aquilo mesmo que podemos conhecer como extensão ( ou corpo) e como pensamento (ou ideia). Enfim, entraremos no delírio, que se tornará tão ou mais perigoso quando querer expressar-se no campo político, o que cedo ou tarde acaba acontecendo, outrora e agora, hoje.
Em geral, o filósofo é modesto e reconhece que o pensamento não consegue conhecer tudo, embora ele possa sentir esse tudo, ao passo que os profetas de toda ordem deliram imaginativamente que podem conhecer tudo. Mas o que querem na verdade é obediência, e por isso demonizam o pensar filosófico.
Espinosa tem um nome para essa imaginação que imagina, delirantemente, poder mais do que o conhecimento: superstição. Para Espinosa, "profeta" é mais do que um tipo religioso: é a subordinação do conhecimento da Natureza à imaginação que delira alcançar uma "sobrenatureza" como "verdade" da natureza, uma verdade que apenas ele, o profeta, tem acesso. Uma "verdade" que exige crença e obediência, e não entendimento e compreensão que realmente libertam.
Quando a imaginação
ignora a sua virtude, que é a de imaginar, e passa a querer conhecer a Natureza , correm risco o corpo e
as ideias : o corpo será demonizado,
pelos moralistas, ou narcisado, pelos egoístas, ao passo que as ideias serão confundidas com meras elucubrações
mentais, sem lastro de saúde do
espírito.
É na poesia e nas artes que a imaginação pode expressar toda a sua saúde e potência, e assim ensinar, com seus próprios meios (as imagens), aquilo que o pensar também sente.
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