Na mitologia , o fio de Ariadne era
uma linha segura por aqueles que
desejavam ir longe, muito longe, pois o fio saia de um novelo que não deixava ninguém se perder. “Ariadne” significa, em
grego, “aranha”. Assim como na aranha, é
do ventre de Ariadne que nasce seu fio libertário e artista. Ariadne também é o símbolo inesgotável da
vida : ventre absoluto, o fio que sai
dela é para fazer linhas de fuga. Alguns bordam quadros com tal fio, outros
compõem música; há ainda os que fazem versos com esse fio, enquanto outros tecem filosofias. O fio se desprende de um
novelo. “Novelo” significa: “novo elo”. O ventre de Ariadne é a pura potência
para gerar novos elos . Às vezes, porém, o fio de Ariadne precisa ser descoberto. Certa
vez em um hospital psiquiátrico um interno se despiu do uniforme de louco que
lhe colocaram, desfez a forma das roupas com significado pronto e acostumado,
até achar de novo o fio tal como ele era antes de um uniforme com ele ser fabricado. O fio assim encontrado se
metamorfoseou em sentido novo a ser bordado: e foi assim que Arthur Bispo do
Rosário religou sua vida ao novelo criativo da humanidade inteira, para assim bordar paisagens, personagens e recriar
seu mundo.
O poder autoritário pode até tentar
cortar o fio, ou com ele fabricar uniformes para tudo vestir homogêneo. Mas
enquanto houver o existir não
conformista, o fio
cortado pode ainda ser achado e de novo
puxado para com ele se bordar linhas de fuga. Quando a gente dá as mãos para
defender a democracia, a pluralidade e a
liberdade , nós mesmos nos tornamos elos
de um fio de Ariadne puxado do novelo da vida.
O fio de Ariadne se opõe ao fio das Moiras, as divindades que teciam o destino.
Embora não fosse de ferro, o fio das Moiras era férreo: ninguém podia escapar
do destino que elas traçavam, às vezes parecendo que elas teciam "camisas
de força". O fio de Ariadne, ao contrário, nascia de um novelo inesgotável
e servia para se reinventar destinos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário