terça-feira, 18 de junho de 2019

fios de ariadne


Na mitologia , o fio de Ariadne era uma linha segura  por aqueles que desejavam ir longe, muito longe, pois o fio saia de um novelo que não deixava  ninguém se perder. “Ariadne” significa, em grego, “aranha”. Assim como na aranha, é  do ventre de Ariadne que nasce seu  fio libertário e artista.  Ariadne também é o símbolo inesgotável da vida  : ventre absoluto, o fio que sai dela é para fazer linhas de fuga. Alguns bordam quadros com tal fio, outros compõem música; há ainda os que fazem versos com esse fio, enquanto outros  tecem filosofias. O fio se desprende de um novelo. “Novelo” significa: “novo elo”. O ventre de Ariadne é a pura potência para gerar novos elos . Às vezes, porém,  o fio de Ariadne precisa ser descoberto. Certa vez em um hospital psiquiátrico um interno se despiu do uniforme de louco que lhe colocaram, desfez a forma das roupas com significado pronto e acostumado, até achar de novo o fio tal como ele era antes de  um uniforme com  ele ser fabricado. O fio assim encontrado se metamorfoseou em sentido novo a ser bordado: e foi assim que Arthur Bispo do Rosário religou sua vida ao novelo criativo da humanidade inteira,  para assim bordar paisagens, personagens e recriar seu mundo.
O poder autoritário pode até tentar cortar o fio, ou com ele fabricar uniformes para tudo vestir homogêneo. Mas enquanto houver  o existir não conformista,   o  fio cortado pode ainda  ser achado e de novo puxado para com ele se bordar   linhas de fuga. Quando a gente dá as mãos para defender a  democracia, a pluralidade e a liberdade , nós mesmos  nos tornamos elos de um fio de Ariadne puxado do novelo da vida.

O fio de Ariadne se opõe ao fio das Moiras, as divindades que teciam o destino. Embora não fosse de ferro, o fio das Moiras era férreo: ninguém podia escapar do destino que elas traçavam, às vezes parecendo que elas teciam "camisas de força". O fio de Ariadne, ao contrário, nascia de um novelo inesgotável e servia para se reinventar destinos.






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