“Minhas palavras não se ajuntam por
sintaxe, mas por afeto”, diz Manoel de Barros. “Sintaxe” é toda “Ordem” que
precede o que fazemos e exige que façamos o homogêneo que ela ordena,
cobrindo-nos com seu uniforme . Quando
as pessoas “se ajuntam apenas por sintaxe” , impera o “mesmal” de um rebanho a
fazer tudo igual . Somente o “Afeto” nos põe dentro da palavra: “A palavra abriu o roupão para mim:
ela quer que eu a seja” , afeta-nos o poeta. É o afeto que ensina cada palavra
a ser companhia para outra, para que assim aprendam a ser as pessoas companhias
umas para as outras. Fazer-se companhia é mais do que oferecer amizade privada ou colocar-se em igualdade conforme a sintaxe das leis.“Companhia”
vem de “compane”. “Pane” está na raiz da palavra “panificadora”, pois
“pane” é, em latim, “pão”.
Assim,“companheiro” é : “aquele com quem dividimos o pão”. Há o pão que alimenta o corpo, como aquele que
faltou ao povo francês, e que Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão?
Comam brioches!”.Então, de outro pão precisaram
os não resignados : a justiça, que é o pão que alimenta a ação dos que, como companheiros , enfrentam
as tiranias. A farinha desse pão é a liberdade, e o seu fermento , a indignação.
Há poetas que , mais do que poetas, também são padeiros que, com
versos, fabricam tal pão que não nos
deixa morrer de fome : “Poesia pode ser que seja fazer outro mundo”
(Manoel de Barros) .
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