domingo, 24 de março de 2019

o padeiro...


“Minhas palavras não se ajuntam por sintaxe, mas por afeto”, diz Manoel de Barros. “Sintaxe” é toda “Ordem” que precede o que fazemos e exige que façamos o homogêneo que ela ordena, cobrindo-nos com seu uniforme .  Quando as pessoas “se ajuntam apenas por sintaxe” , impera o “mesmal” de um rebanho a fazer tudo igual . Somente o “Afeto” nos põe dentro da  palavra: “A palavra abriu o roupão para mim: ela quer que eu a seja” , afeta-nos o poeta. É o afeto que ensina cada palavra a ser companhia para outra, para que assim aprendam a ser as pessoas companhias umas para as outras. Fazer-se companhia é mais do que oferecer  amizade privada  ou colocar-se em  igualdade conforme a sintaxe das leis.“Companhia” vem de “compane”. “Pane”  está  na raiz da palavra “panificadora”, pois “pane” é, em latim,   “pão”. Assim,“companheiro” é : “aquele com quem dividimos o pão”. Há o  pão que alimenta o corpo, como aquele que faltou ao povo francês, e que Maria Antonieta, zombando, disse: “Não têm pão? Comam brioches!”.Então, de outro pão precisaram  os não resignados : a justiça, que é o pão que alimenta  a ação dos que, como companheiros ,  enfrentam  as tiranias. A farinha desse pão é a liberdade, e o seu fermento ,  a indignação.  Há poetas que , mais do que poetas, também são padeiros que, com versos,   fabricam tal pão que não nos deixa  morrer de fome :  “Poesia pode ser que seja fazer outro mundo” (Manoel de Barros) .







                                                                                                      

                                                                                 


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