Zeus concedeu
a Prometeu e Epimeteu a tarefa de criar
os seres vivos. Zeus fez apenas duas exigências: “Que cada ser receba uma qualidade
para ser a sua essência e que se
capriche na criação do ser humano”. Prometeu era o mais indicado para realizar
a obra, mas precisando se ausentar pediu então a Epimeteu para
começar a obra: “Mas não se esqueça do homem!”, advertiu antes de sair. Epimeteu resolveu começar a obra pelos animais. Em
alguns ele pôs a força; noutros ele colocou a velocidade.
Outros receberam o dom de voar; o veneno receberam outros. Enfim, Epimeteu foi
esvaziando a despensa da natureza... Chega Prometeu para inspecionar a obra e ,
com preocupação, grita: “Onde está o homem!?” Epimeteu aponta para o barro: o homem era
ainda um simples esboço no barro ( “homem” vem
do latim “húmus”, “barro”). Prometeu percebe então que precisa pedir
auxílio aos deuses para fazer o homem.
Prometeu
buscou Hefesto, o deus artesão-operário. Este deu a Prometeu, para este dar aos
homens, a habilidade de usar as mãos. Nascia assim a técnica e, com ela, o homo faber. Este homem já não aceita
simplesmente a natureza externa: ele a transforma. Todavia, apenas usar as mãos não foi
suficiente, pois as feras conseguiam sobrepujar tal homem. Prometeu busca a
ajuda de Atena, a deusa da sabedoria. Esta dá a Prometeu , para este pôr nos homens, a inteligência. Os homens
aprendem a contar , a escrever e a
teorizar. Nasce o homo sapiens.
Mas os que
receberam a inteligência não foram os mesmos que receberam a habilidade
técnica-manual. Entre os que sabem
empregar as mãos e os que só sabem teorizar nasce uma inimizade: cada um via no
outro apenas a ausência da qualidade
própria. Surgia assim a intolerância : não viam entre si nada de comum. Prometeu resolve ir então diretamente a Zeus .
Este aceita conceder a Prometeu, para este pôr nos homens, o sentido ético da
justiça. Zeus fez uma exigência: que este afeto seja colocado em todos os homens , somente o
senso ético tornaria os homens inteiros. Prometeu instala esse afeto pela justiça no coração do homem,
libertando-o da guerra entre a teoria e a técnica, entre o cérebro e as mãos. É esse afeto que equilibra o homem, o equilibra
primeiramente por dentro, para que assim ele possa se equilibrar na relação com
os outros. Nasce, dessa forma, o homo
eticus. Os homens aprenderam a cooperar: e assim nasceu a sociedade.
Contudo,
por muito tempo não durou o governo da sensibilidade
ética. Como sabiam escrever e desconfiavam da sensibilidade, os teóricos
criaram as leis. Depois criaram o
Estado, que se tornou monopólio deles. Nasceu assim o déspota impondo
a crença de que tinha uma origem
diferente: não o barro, mas o ouro. O déspota criou uma casta de sacerdotes e
juízes com privilégios, bem como um exército para reprimir os herdeiros de
Hefesto-Operário, reduzindo-os a servos presos a grilhões. O homem passou a ser então a
serpente e o lobo do outro homem... Ao ver o que se tornou sua obra, novamente
Prometeu com indignação gritou: “Onde está o homem!?” Os que não são surdos a tal grito se apresentam, resistindo aos déspotas e quebrando grilhões.
( o texto acima que escrevi é uma interpretação do poema de Hesíodo "Os trabalhos e os dias")
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