Há o “candidato-profeta”, que é
aquele que vive de promessas. Ele diz que
sabe como chegar à terra prometida impoluta , desde que se creia nele,
mesmo ele parecendo estar perdido e seus pés sujos de lama. Há o “candidato-messias”, que se
autoproclama o ungido, o iluminado, o escolhido. Não interessam os programas e
os partidos: só ele é a salvação. Ele não vai governar: fará milagres, desde
que se o aceite como a pura encarnação da Verdade , e que se
renuncie às ideias, às regras, a si mesmo. E há o “candidato-apóstolo”.
“Apóstolo” significa: “aquele que porta uma ideia, comunicando-a com sua vida”. Ele não promete, tampouco
pede obediência acrítica: ele ensina e propaga o que aprendeu. Ele se converteu
em democrata , pois é a democracia a ideia que o converteu. Os candidatos-profetas
vivem a pregar o ódio aos outros candidatos-profetas que prometem paraísos
outros . Já o candidato-messias não quer cidadãos, homens livres, ele se cerca
de adoradores , mesmo que medíocres. O candidato-apóstolo não promete a terra
fértil lá longe, ele traz as sementes para que , em conjunto e cooperativamente,
as plantemos, mas não sem esforço. E, quem
sabe, consigamos reverter essa desertificação em que estamos.
( adaptei aqui o que diz Deleuze
comentando Espinosa: o autêntico filósofo nunca é um profeta das ideias,
tampouco um messias como incorporação da “Verdade”. O filósofo, diz Deleuze, assemelha-se
a um apóstolo que ensina a potência da ideia a partir da própria ideia libertária que aprendeu e o fez filósofo. Ele não quer ser obedecido
ou imitado, ele deseja ser o agente de agenciamentos,
composições, bons encontros).
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