Segundo Espinosa, não se deve
confundir “ódio” com “indignação”. A indignação, motor da busca pela justiça, é
um afeto ativo nascido da compreensão de que
uma injustiça sofrida por outro cidadão de nós diferente é um
mau que também nos atinge, ao passo que o ódio é um sentimento reativo
transformado em vontade de destruir o outro ,
física ou simbolicamente, às vezes o estigmatizando como um “Mal” . Indignação é desejo de justiça,
ódio é vontade de vingança. A indignação
une os homens na luta pela justiça para todos, já o ódio os põe uns contra os
outros e coloca em perigo o todo. O ódio é imaginação, não é conhecimento
consistente das coisas . Jamais o
astrônomo conheceria adequadamente as
estrelas se as odiasse, nunca um médico conheceria o remédio certo para curar
uma doença se apenas a odiasse, jamais alguém pode conhecer o que é a
democracia odiando quem é ou pensa diferente.
Ao contrário, é o conhecimento o processo que pode libertar o homem do ódio,
desde que ele comece por conhecer a si mesmo primeiro compreendendo que a causa de uma limitação própria nunca tem
por causa exclusiva a diferença do
outro. Enfim, o que caracteriza um
cidadão, diz Espinosa, não é exatamente votar
ou empreender negócios, mas ser capaz de se indignar com a injustiça sofrida
por um outro.
“Palavra poética se une mais por afeto do que
por sintaxe”(Manoel de Barros).
- imagem : “Duelo a pauladas”, de
Goya. Nesse quadro, Goya quis fazer um retrato da intolerância: “Dois homens
lutam a pauladas enterrados até os joelhos [a areia movediça como símbolo da
ignorância: quem faz da ignorância chão, será tragado por ela]. Nenhum sentido
na luta: um enfrentamento absurdo em uma paisagem árida [infértil]”.
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