O sol não existe com a finalidade de
fazer a planta crescer, porém a planta cresce ao compor-se com o sol. A planta
não existe com a finalidade de nos alimentar, porém nos alimentamos cultivando
as plantas. Nenhum ser existe para ser a finalidade do outro. Cada ser pode
ser, no entanto, o meio ou instrumento que auxilie um outro ser a afirmar
aquilo que ele já é. Basta o sol ser o sol, tal como ele é, para ele ser o que de melhor existe para a
planta ser a planta. O mesmo vale para as pessoas: é sendo cada um o que já é
que poderá ser para o outro um bom encontro . Também é cada um sendo o que já é
que poderá ser para o outro um mau encontro. O bom encontro , inclusive, nunca é uma promessa,
mas uma relação real nascida de cada um
já ser o que é, e não da promessa de cada um virar, em palavras, outro.
A diferença entre o bom e o mau encontro
não está em cada ser singular ,
mas no que cada ser pode aumentar ou
diminuir de si mesmo na relação com o outro. E isso que já somos não precisa
ser do mesmo nível que o outro em termos de potência: o sol tem mais potência
que a planta, porém a potência da planta somente é um “menos” quando comparada
com a potência do sol. Nela mesma, a potência da planta é como toda potência,
inclusive a nossa: aumentará se tiver um bom encontro, diminuirá se sofrer um
mau encontro. Não é o outro ser o responsável exclusivo pelo bom ou mau encontro:
nós também somos corresponsáveis pelos amores e alegrias que nos acontecem e mesmo dos ódios e tristezas
que imaginamos vir apenas do
outro. O sol não envia as flores que a planta fabrica, mas com a energia
que o sol envia a planta fabrica flores.
Uma pessoa não envia a amizade inteira à
outra, é esta que a fabrica tornando-se da amizade parte, aumentando suas
energias. Uma pessoa não envia o ódio inteiro
à outra, é esta que o fabrica
fazendo-se do ódio parte , diminuindo
ela própria suas energias, enquanto potência de agir, sentir e pensar.
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