terça-feira, 7 de agosto de 2018

democracia e poder de agir


O homem livre  nunca termina de esculpir sua própria estátua, 
pois a arte viva não está na pedra enfim moldada, 
mas no ato de fazer-se que nunca termina.
Plotino

Poder não é a mesma coisa que potência. Foi pensando nessa diferença que Espinosa, por exemplo, definiu e defendeu  a democracia. Em latim, “potência” é “potentia”, enquanto “poder” é “potestas”. “Potência” é a capacidade de realizar ou fazer algo, já o poder , a potestas, é essa capacidade sendo exercida em ato. O professor tem a potência de ensinar, mesmo estando em casa. É quando ele está em sala, no encontro com os alunos, que ele exerce isso que ele pode: nasce a potestas, o poder,  como expressão de uma potência. É a potentia que legitima a potestas, o poder. O médico tem a potência de curar:  é no encontro com o paciente que de tal potência nasce um poder, quando seu saber vira ato, acontecimento, sempre em uma relação. O cidadão tem a potência de governar. Nas experiências históricas de democracia direta, participativa,  cada cidadão exercia, em agenciamento com outros, funções que em nossa sociedade quem faz é o prefeito. Em nossas sociedades , embora tenhamos a potência  de governar, não temos o poder: delegamos esse poder a outro - o prefeito, o presidente, etc. É como se fôssemos  professores,  médicos, porém nos tornássemos  , no sistema representativo de poder,  alunos e pacientes de péssimos professores e médicos charlatães. Ou seja, na democracia representativa somos separados daquilo que podemos. Temos a potência , mas nos roubaram os meios de governarmos a nós mesmos, e chamam a isso de liberdade.  Somos forçados a delegar nosso poder de agir a indivíduos de pouca potência , de capacidade nula. E que usam o poder recebido para manter a vida impotente deles, ao custo da nossa potência, da nossa saúde, da nossa vida.





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