O homem livre nunca
termina de esculpir sua própria estátua,
pois a arte viva não está na pedra
enfim moldada,
mas no ato de fazer-se que nunca termina.
Plotino
Poder não é a mesma coisa
que potência. Foi pensando nessa diferença que Espinosa, por exemplo, definiu e
defendeu a democracia. Em latim,
“potência” é “potentia”, enquanto “poder” é “potestas”. “Potência” é a
capacidade de realizar ou fazer algo, já o poder , a potestas, é essa
capacidade sendo exercida em ato. O professor tem a potência de ensinar, mesmo
estando em casa. É quando ele está em sala, no encontro com os alunos, que ele
exerce isso que ele pode: nasce a potestas, o poder, como expressão de uma potência. É a potentia
que legitima a potestas, o poder. O médico tem a potência de curar: é no encontro com o paciente que de tal
potência nasce um poder, quando seu saber vira ato, acontecimento, sempre em
uma relação. O cidadão tem a potência de governar. Nas experiências históricas
de democracia direta, participativa,
cada cidadão exercia, em agenciamento com outros, funções que em nossa
sociedade quem faz é o prefeito. Em nossas sociedades , embora tenhamos a
potência de governar, não temos o poder:
delegamos esse poder a outro - o prefeito, o presidente, etc. É como se
fôssemos professores, médicos, porém nos tornássemos , no sistema representativo de poder, alunos e pacientes de péssimos professores e
médicos charlatães. Ou seja, na democracia representativa somos separados
daquilo que podemos. Temos a potência , mas nos roubaram os meios de governarmos
a nós mesmos, e chamam a isso de liberdade.
Somos forçados a delegar nosso poder de agir a indivíduos de pouca
potência , de capacidade nula. E que usam o poder recebido para manter a vida
impotente deles, ao custo da nossa potência, da nossa saúde, da nossa vida.
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