O aprender vem antes do ensinar.
Deleuze
Manoel de Barros diz que aprendeu
com o pintor Miró a necessidade de
"aprender a desaprender" . Foi assim: Miró desenhava de forma precisa e técnica. Porém,
essa mesma precisão e técnica tornou-se uma fôrma e prisão na qual o próprio
Miró achou que se prendeu. Sob imensa crise, ele parou então de pintar. Miró
desistiu da arte, mas a arte não desistiu de Miró: certa vez , “atoamente”,
Miró começou a rascunhar com lápis de cor usando a mão esquerda, mão que ele nunca usava. A
arte novamente subiu por essa mão não adestrada e foi alcançar a mente do
pintor, regenerando tudo o que parecia
rígido e morto. O artista descobriu-se novamente criança nesta mão: cada
desenho era o desenhar de novo nascendo ─ fazendo-se como novidade, experiência
e descoberta. Ao desaprender as formas e códigos da mão direita, Miró
redescobriu a pintura e a ele mesmo: reencontrou a alegria da criança cujo
brincar e inventar é a coisa mais séria e verdadeira. Quando aprendemos,
imaginamos que o ensinar vem antes do
aprender, uma vez que aprendemos com
alguém que nos ensina o que já sabe, e que por sua vez aprendeu de um
outro que já sabia, e este de um outro, e este de um outro ainda...Ou seja, tal
lógica se sustenta na crença de que lá
no início dos tempos houve um Primeiro que conhecia tudo e começou a ensinar , isto é, um "Mestre Racional
" que parece ter nascido adulto ,
que nunca brincou e foi criança. Mas
quando aprendemos a desaprender , compreendemos que é o aprender que vem
primeiro, como didática da invenção e
inocente ignorãça.
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