“Os comparamentos matam a comunhão” . Esse pensamento de
Manoel ilustra o que Espinosa chama de
“perfeição”. Esta não nasce da
comparação entre dois seres, mas da capacidade que tem um ser de realizar uma
ação, de acordo com sua maneira de ser. Perfeição não é um “Modelo Ideal” ou
“Padrão” a ser alcançado, do qual alguns
estão mais pertos e outros mais longe.
Perfeição é o que um ser
realiza, acentuando sua singularidade,
de acordo com aquilo que ele pode. Na paraolimpíada, por exemplo, faremos uma
ideia equivocada da perfeição se compararmos um nadador paraolímpico com um
olímpico, tomando este último como modelo para julgar aquele, dado que a
ausência de um braço ou perna no primeiro somente é uma “falta” quando o
comparamos com o nadador olímpico que os tenha. Porém, nenhuma comparação nos
ensina a conhecer a singularidade de algo. Visto nele mesmo, em sua
singularidade, o nadador paraolímpico não se explica por algo que lhe falta,
mas por aquilo que ele é capaz de fazer. E neste fazer não há falta, há
potência como expressão ou comunhão afirmativa da vida. O nadador paraolímpico
e o olímpico têm algo em comum: são atletas. Cada um expressa esse comum de
acordo com o que pode. E não é apenas com braços e pernas que se nada, antes é
preciso a força da mente.
Manoel de Barros também dizia: “Não sou afeito a
comparamentos, o poema surge da comunhão”.
Ser incomparável nada tem a ver com ser o primeiro de uma escala que vai
do primeiro lugar ao último. Ser incomparável é ser único, fazendo-se único,
isto é, exemplo de superação . Não superação dos outros, mas superação de si
mesmo.
(imagem: incomparável ágora brincativa)
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