O escritor Maurice Blanchot emprega uma imagem para questionar os que
defendem a “neutralidade” como atitude “justa” para enfrentar os perigos que
ameaçam a sociedade e a vida. Tal “neutralidade
apolítica” seria como querer conhecer um quarto colocando-se fora dele, atrás
da porta, e olhando para dentro pelo buraco da fechadura. O “neutro” imagina descrever assim apenas os fatos e tão somente os fatos que
vê: sem “paixões” e envolvimentos , apenas a “razão pura”. Mas tal
“neutralidade” , segundo Blanchot, nada
mais é , na maioria dos casos, do que uma
parcialidade que se dissimula, ou ainda mera alienação mesmo.
Porém a vida nunca é neutra : ela
sempre toma partido a favor daqueles que
a querem mais viva e por ela se
arriscam, mesmo correndo o risco de perdê-la.
O oposto de se alienar olhando a vida
pela fechadura, ou por uma tela de tevê ou celular , o oposto disso é fazer-se vivamente presente, mas sem perder de
vista a janela . Se não houver janela, quebrar a parede para inventar uma
, fazendo-se abertura
por onde entre luz e ar novo,
para não sufocar. Atrás de fechaduras fica quem se esconde, perto da janela
vive quem ama horizontes.
( imagem: “O geógrafo”, de Vermeer.
Segundo alguns, esse geógrafo a olhar para fora dos limites do quarto seria o próprio Espinosa, o “geógrafo do
pensamento”)
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