sábado, 21 de julho de 2018

o filósofo e o horizonte


O escritor Maurice Blanchot emprega  uma imagem para questionar  os  que defendem a “neutralidade” como atitude “justa” para enfrentar os perigos que ameaçam a sociedade e a vida.  Tal “neutralidade apolítica” seria como querer conhecer um quarto colocando-se fora dele, atrás da porta, e olhando para dentro pelo buraco da fechadura. O “neutro” imagina  descrever  assim apenas os fatos e tão somente os fatos que vê: sem “paixões” e envolvimentos , apenas a “razão pura”. Mas tal “neutralidade” , segundo Blanchot,  nada mais é , na maioria dos casos, do que  uma parcialidade que se dissimula,   ou  ainda mera alienação  mesmo.   Porém a  vida nunca é neutra : ela sempre toma partido a favor  daqueles que a querem mais viva  e por ela se arriscam, mesmo  correndo o risco de perdê-la. O oposto de se alienar  olhando a vida pela fechadura, ou por uma tela de tevê ou celular ,  o oposto disso é  fazer-se vivamente presente, mas sem perder de vista a janela . Se não houver janela, quebrar a parede para inventar uma ,  fazendo-se  abertura  por onde  entre luz e ar novo, para não sufocar.  Atrás de fechaduras fica quem se esconde, perto da janela vive quem ama horizontes.

( imagem: “O geógrafo”, de Vermeer. Segundo alguns, esse geógrafo a olhar para fora dos limites do quarto   seria o próprio Espinosa, o “geógrafo do pensamento”)





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