segunda-feira, 30 de julho de 2018

manoel e as desaprendizagens


O aprender vem antes do ensinar.
Deleuze

Manoel de Barros diz que aprendeu com  o pintor Miró a necessidade de "aprender a desaprender" . Foi assim: Miró  desenhava de forma precisa e técnica. Porém, essa mesma precisão e técnica tornou-se uma fôrma e prisão na qual o próprio Miró achou que se prendeu. Sob imensa crise, ele parou então de pintar. Miró desistiu da arte, mas a arte não desistiu de Miró: certa vez , “atoamente”, Miró começou a rascunhar com lápis de cor usando   a mão esquerda, mão que ele nunca usava. A arte novamente subiu por essa mão não adestrada e foi alcançar a mente do pintor, regenerando  tudo o que parecia rígido e morto. O artista descobriu-se novamente criança nesta mão: cada desenho era o desenhar de novo nascendo ─ fazendo-se como novidade, experiência e descoberta. Ao desaprender as formas e códigos da mão direita, Miró redescobriu a pintura e a ele mesmo: reencontrou a alegria da criança cujo brincar e inventar é a coisa mais séria e verdadeira. Quando aprendemos, imaginamos que o ensinar vem antes  do aprender, uma vez que aprendemos com  alguém que nos ensina o que já sabe, e que por sua vez aprendeu de um outro que já sabia, e este de um outro, e este de um outro ainda...Ou seja, tal lógica se sustenta na crença  de que lá no início dos tempos  houve  um Primeiro  que conhecia  tudo e começou a ensinar , isto é, um "Mestre Racional "  que parece ter nascido adulto , que nunca brincou e foi criança.  Mas quando aprendemos a desaprender , compreendemos que é o aprender que vem primeiro, como didática da invenção  e inocente  ignorãça.





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