OS AFETOS EM
ESPINOSA[1]
Segundo Espinosa, são
três os afetos originários: o desejo, a alegria e a tristeza. Depois Espinosa
acrescenta mais dois afetos básicos: o amor e o ódio. O amor e o ódio vêm
depois porque eles são afetos que dependem de objetos, ao passo que alegria e
tristeza são processos internos ( por isso , são chamados “paixões”: paixões
alegres e paixões tristes). O desejo, a alegria, a tristeza , o amor e o ódio:
esses são os afetos principais dos quais todos os outros afetos decorrem .
Alegria e tristeza, amor e ódio formam pares antagônicos, porém o desejo é
único, ímpar.
Espinosa também diz que
“O desejo é a essência do homem.” Essa essência varia aumentando ou diminuindo
, se potencializando ou se despotencializando, conforme a existência que
levamos. A essência ( o desejo) expressa nossa singularidade, enquanto que nossa existência se traduz nos encontros
que fazemos. Amor e ódio são afetos nascidos dos encontros , encontros esses
que aumentarão ou diminuirão o nosso desejo, a nossa essência. Os bons
encontros geram amor e alegria: o desejo se intensifica; os maus encontros acarretam ódio e tristeza:
o desejo se enfraquece. Como o desejo é vida, é a vida que é aumentada ou
diminuída conforme os encontros que fazemos. A tristeza e o ódio não fazem
parte da essência , pois a essência é o desejo.
Porém, como a essência em
Espinosa não vive apartada da existência ( como acontece em Platão e no
restante da filosofia), a tristeza e o ódio podem enfraquecer a tal ponto o
desejo que este pode até mesmo desejar se submeter à tristeza e ao ódio, como
se esses fossem sua essência, gerando assim a servidão. Contudo, Espinosa não
demoniza a tristeza e o ódio, tais afetos fazem parte da existência humana,
eles não são “pecados” , nem mais fortes que a alegria e o amor. A tristeza e o
ódio fazem parte da existência humana tal como os relâmpagos e as tempestades
fazem parte da existência do céu.
Mas o céu não é só relâmpago e tempestade, o
céu também pode ser de azul claro e translúcido: o céu também pode ser de alegria. Em latim, “desejo” é “cupiditas”:
“relativo a Cupido”. Diferentemente do “Eros” grego, que abandonou Afrodite (o corpo) para ficar apenas com Psiquê ( a alma), o Cupido latino é , ao
mesmo tempo, alma e corpo ( e os une).
O amor não é a ausência
do ódio, nem a alegria é a ausência da tristeza. O ódio é a despotencialização do amor, sua ausência
em relação a si mesmo, o seu colocar-se do avesso. A tristeza é a despotencialização da alegria tendo como
causa o enfraquecimento do desejo. São a alegria e o amor que explicam a tristeza e o ódio, pois a tristeza e o ódio não se explicam por si mesmos.
Segundo ainda Espinosa,
somente um afeto afirmador da vida pode vencer um afeto que a enfraquece. Os
raciocínios são importantes, porém não é racionalizando a tristeza e o
ódio que se pode vencê-los, pois os
afetos também se enraízam no corpo, e o corpo é infenso a raciocínios.
Quando a gente compreende
as razões de existirem a tristeza e o ódio ( e compreender é mais do que
racionalizar, teorizar ou julgar), dessa
compreensão nasce uma alegria que vence a própria tristeza que nos impedia de
pensar e agir.
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