segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Os afetos em Espinosa

 

                                     OS AFETOS EM ESPINOSA[1]

 

Segundo Espinosa, são três os afetos originários: o desejo, a alegria e a tristeza. Depois Espinosa acrescenta mais dois afetos básicos: o amor e o ódio. O amor e o ódio vêm depois porque eles são afetos que dependem de objetos, ao passo que alegria e tristeza são processos internos ( por isso , são chamados “paixões”: paixões alegres e paixões tristes). O desejo, a alegria, a tristeza , o amor e o ódio: esses são os afetos principais dos quais todos os outros afetos decorrem . Alegria e tristeza, amor e ódio formam pares antagônicos, porém o desejo é único, ímpar.

Espinosa também diz que “O desejo é a essência do homem.” Essa essência varia aumentando ou diminuindo , se potencializando ou se despotencializando, conforme a existência que levamos. A essência ( o desejo) expressa nossa singularidade, enquanto  que nossa existência se traduz nos encontros que fazemos. Amor e ódio são afetos nascidos dos encontros , encontros esses que aumentarão ou diminuirão o nosso desejo, a nossa essência. Os bons encontros geram amor e alegria: o desejo se intensifica;  os maus encontros acarretam ódio e tristeza: o desejo se enfraquece. Como o desejo é vida, é a vida que é aumentada ou diminuída conforme os encontros que fazemos. A tristeza e o ódio não fazem parte da essência , pois a essência é o desejo.

Porém, como a essência em Espinosa não vive apartada da existência ( como acontece em Platão e no restante da filosofia), a tristeza e o ódio podem enfraquecer a tal ponto o desejo que este pode até mesmo desejar se submeter à tristeza e ao ódio, como se esses fossem sua essência, gerando assim a servidão. Contudo, Espinosa não demoniza a tristeza e o ódio, tais afetos fazem parte da existência humana, eles não são “pecados” , nem mais fortes que a alegria e o amor. A tristeza e o ódio fazem parte da existência humana tal como os relâmpagos e as tempestades fazem parte da existência do céu.

 Mas o céu não é só relâmpago e tempestade, o céu também pode ser de azul claro e translúcido: o céu também pode ser  de alegria. Em latim, “desejo” é “cupiditas”: “relativo a Cupido”. Diferentemente do “Eros” grego, que abandonou  Afrodite (o corpo) para ficar apenas com  Psiquê ( a alma), o Cupido latino é , ao mesmo tempo, alma e corpo ( e os une).

O amor não é a ausência do ódio, nem a alegria é a ausência da tristeza.  O ódio é a despotencialização do amor, sua ausência em relação a si mesmo, o seu colocar-se do avesso. A  tristeza é  a despotencialização da alegria tendo como causa o enfraquecimento do desejo. São a alegria e o amor que explicam a tristeza e o ódio, pois a tristeza e o ódio não se explicam por si mesmos.

Segundo ainda Espinosa, somente um afeto afirmador da vida pode vencer um afeto que a enfraquece. Os raciocínios são importantes, porém não é racionalizando a tristeza e o ódio  que se pode vencê-los, pois os afetos também se enraízam no corpo, e o corpo é infenso a raciocínios.

Quando a gente compreende as razões de existirem a tristeza e o ódio ( e compreender é mais do que racionalizar,  teorizar ou julgar), dessa compreensão nasce uma alegria que vence a própria tristeza que nos impedia de pensar e agir.



[1] Texto elaborado pelo prof. Elton.



Este livro é apenas uma sugestão:



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