domingo, 3 de novembro de 2024

Espinosa e o ânimo

 

Para Espinosa, não apenas as ideias são modos ou  maneiras da mente, os afetos igualmente  o são. Os afetos também envolvem o pensamento: eles são modos ou maneiras de pensar, um pensar que também  sente.

Por essa razão, há uma diferença entre as ideias e os afetos: enquanto as ideias dizem respeito à mente em seu aspecto intelectual-cognitivo, os afetos expressam a mente enquanto “ânimo”. O ânimo é a mente enquanto unida indissociavelmente ao corpo, isto é, à vida.

Espinosa às vezes emprega a palavra “coração” como sinônimo de ânimo. Não o coração enquanto sede de sentimentos subjetivos, mas sim como força que age : etimologicamente,  “coragem” é o coração que ousa agir. Sobretudo quando a escuridão em torno cega a inteligência , esta deve largar as rédeas e deixar a força que nasce do ânimo nos conduzir.  

A covardia e o  medo ,ao contrário, são  uma forma de des-ânimo: enfraquecimento ou despotencialização do nosso ânimo, isto é, de nossa mente e de nosso corpo.

Talvez seja por isso que as tir4ni4s se tornam mais fortes quanto maior for nosso desânimo... E, ao contrário , o ânimo potencializado é sempre o agente de emancipação e dignidade  da vida, tanto a pessoal quanto a coletiva.  O ânimo fortalecido não apenas resiste, ele também luta, persevera,  congrega e cria: no sentido amplo da palavra, educa.

Os filósofos e poetas que mais nos tocam e afetam são aqueles que  escrevem e falam não  apenas com a mente, teoricamente ; eles falam e escrevem também com o ânimo, vitalmente :  para que os leiamos ou ouçamos não apenas com  olhos e ouvidos   , mas com todo nosso ser , que assim se enche de ânimo para produzir e agir.


( A referência do texto é a obra  “Ética”, Parte 2, axioma 3. O livro de Nise é apenas uma sugestão de leitura. Como ensina Nise inspirando-se em Espinosa, a mão que pinta, esculpe e borda também fortalece o ânimo e auxilia na  conquista de  saúde mental . A mão  que cuida e doa também fortalece o ânimo, ao passo que   adoece o ânimo  a mão que , egoisticamente, apenas sabe contar dinheiro ... )








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