Para Espinosa, não apenas
as ideias são modos ou maneiras da
mente, os afetos igualmente o são. Os
afetos também envolvem o pensamento: eles são modos ou maneiras de pensar, um
pensar que também sente.
Por essa razão, há uma
diferença entre as ideias e os afetos: enquanto as ideias dizem respeito à
mente em seu aspecto intelectual-cognitivo, os afetos expressam a mente
enquanto “ânimo”. O ânimo é a mente enquanto unida indissociavelmente ao corpo,
isto é, à vida.
Espinosa às vezes emprega
a palavra “coração” como sinônimo de ânimo. Não o coração enquanto sede de sentimentos
subjetivos, mas sim como força que age : etimologicamente, “coragem” é o coração que ousa agir. Sobretudo
quando a escuridão em torno cega a inteligência , esta deve largar as rédeas e
deixar a força que nasce do ânimo nos conduzir.
A covardia e o medo ,ao contrário, são uma forma de des-ânimo: enfraquecimento ou
despotencialização do nosso ânimo, isto é, de nossa mente e de nosso corpo.
Talvez seja por isso que
as tir4ni4s se tornam mais fortes quanto maior for nosso desânimo... E, ao
contrário , o ânimo potencializado é sempre o agente de emancipação e
dignidade da vida, tanto a pessoal
quanto a coletiva. O ânimo fortalecido
não apenas resiste, ele também luta, persevera,
congrega e cria: no sentido amplo da palavra, educa.
Os filósofos
e poetas que mais nos tocam e afetam são aqueles que escrevem e falam não apenas com a mente, teoricamente ; eles falam
e escrevem também com o ânimo, vitalmente :
para que os leiamos ou ouçamos não apenas com olhos e ouvidos , mas com todo nosso ser , que assim se
enche de ânimo para produzir e agir.
( A
referência do texto é a obra “Ética”, Parte 2, axioma 3. O livro de
Nise é apenas uma sugestão de leitura. Como ensina Nise inspirando-se em
Espinosa, a mão que pinta, esculpe e borda também fortalece o ânimo e auxilia
na conquista de saúde mental . A mão que cuida
e doa também fortalece o ânimo, ao passo que adoece
o ânimo a mão que , egoisticamente, apenas
sabe contar dinheiro ... )
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