O TAMANHO DA FILOSOFIA [1]
Qual o tamanho da filosofia? Em uma de suas Cartas[2], Sêneca nos coloca essa
questão. Muitos reclamam de a filosofia ser muito ampla e ter muitas partes :
ética, lógica, teoria do conhecimento, estética, poética...E que o estudo de
tais coisas rouba tempo.
Mas esse tipo de grandeza quantitativa mensurável pelo tempo não traduz
a autêntica grandeza da filosofia. Não são livros, disciplinas e sistemas que
expressam a verdadeira grandeza e amplitude da filosofia.
Então, qual o tamanho da filosofia? Responde Sêneca: “A filosofia é do
tamanho do universo”. Seria tolo quem reclamasse que o universo é muito
grande...Para saber que o universo existe e que ele é inesgotável, não é
necessário condicionar isso a tempo para percorrê-lo.
Quando olhamos para o céu e nos damos conta da amplidão do universo, não
o vemos apenas com nossos olhos, pois esses veem apenas uma parte do universo;
também vemos o universo com nosso pensamento, que assim pensa o seu todo
aberto.
Ver-pensando o Universo Aberto também nos desabre, nos desegoifica, e
expressa o que Manoel de Barros chama de “horizontamento”[3].
É pensando o universo que o pensamento descobre a si mesmo
enquanto ato o mais libertário do qual somos capazes, ele que é ,
como ensina Espinosa, ato-potência do próprio universo se pensando a partir de
nossa perspectiva sobre ele.
Mas a maioria dos homens vive imersa em seus interesses, em suas paixões
limitadoras e opiniões reativas. As opiniões reativas os deixam
mais do que cegos: roubam seus olhos do pensamento. Assim como
ignoram o universo , ignoram a si mesmos e a filosofia. Imaginam que estudá-la
é perder tempo , assim como imaginam que conhecer o universo dependeria de se percorrê-lo parte
a parte .
Porém , como ensina Bergson, o filósofo se instala de imediato e intuitivamente, com o
pensamento e o corpo, na filosofia, uma vez que ele se instala , antes de tudo,
na existência. É como um raio que o pensar percorre a filosofia, sempre fazendo
descobertas a cada vez que a percorre, sem esgotá-la.
Não é mera metáfora afirmar que o pensamento é luz, pois a luz é a
realidade de maior velocidade. O universo somente pode ser apreendido na
velocidade da luz, e o olhar que o pensa torna-se “luzeiro”.
O universo é luz que percorre a si mesma : luz que sai de si mesma,
viaja sobre si mesma e retorna a si mesma, diferente de quando partiu.
E o mesmo é a filosofia: luz que se irradia ao universo em velocidade
infinita , luz que a si mesma se revela ao pensar o universo do qual
é uma expressão viva enquanto potência afirmadora da Terra.
O estudo da filosofia não é perda de tempo, e sim ganho de eternidade.
Não uma eternidade que apenas se contempla, mas a partir da qual se age no aqui
e agora.
[3] Cf. poema “Canção do ver”, de Manoel de Barros.
Um comentário:
Minha insignificância se agiganta ao contemplar o universo com vãs certezas. Daí, silencio pensamentos para poder ouvir estrelas...
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