A nova inteligência artificial ChatGPT vem sendo tratada por certo setor da
mídia como o fim dos filósofos, poetas, escritores, professores...
Porém, como toda inteligência, ela é capaz de
produzir apenas dentro do âmbito daquilo que pode uma inteligência. Mas o
pensamento não é só inteligência, nele também há intuição, sensibilidade,
imaginações, afetos...
O teste de QI, por exemplo, mede
apenas a inteligência, pois não existe teste para medir o caráter...E o
pensamento também é expressão do caráter em sua dimensão ética: um filósofo
não produz um texto só porque alguém lhe pede, isto é, sem saber os usos ,
intenções ou fins daquele que pediu.
Além disso, a inteligência artificial
não veio para substituir poetas, professores e filósofos. No máximo, ela é mais um poeta ,
professor e filósofo; um poeta ,
professor e filósofo medianos, para
falar a verdade.
Assim como cada escritor tem seu
estilo, a inteligência artificial também o tem, um estilo um tanto clicheroso e
com “lugares comuns” previsíveis (
feitos à medida de quem quer apenas lucrar dinheiro com eles).
Quando o professor pede para uma
turma de trinta alunos dissertarem sobre o que significa a “Caverna de Platão”, por
exemplo, provavelmente o professor receberá trinta respostas diferentes . Mas se
a mesma pergunta for feita trinta vezes à inteligência artificial,
provavelmente ela dará trinta vezes a mesma resposta.
O problema não é um robô substituir o
professor que ensina, grave será o dia em que quem aprende aceitar se comportar
como um robô: pois robôs não aprendem, são programados...
Não são os mesmos o “virtual” da
inteligência artificial e o virtual do qual nascem os pensamentos e ideias de
poetas, criadores e filósofos. O virtual da inteligência artificial está dado no sistema , ela apenas retira dele seus textos, ao passo
que o virtual do pensamento vivo nunca está dado, nem mesmo na rede material
dos neurônios.
A rede de neurônios atualiza o virtual do pensamento em cada ideia
que temos , mas sem esgotar sua potência virtual não dada. A inteligência
artificial é refém de possíveis já dados, enquanto que o pensar filosófico-poético
renova a realidade muitas vezes pensando o impossível.
A inteligência artificial é mais uma
possibilidade-ferramenta desde que se saiba usá-la, e não ser usado voluntária e ingenuamente por
ela. E aqueles que a empregarem para burlar e fraudar, esses serão apenas
novas versões de velhas práticas fraudulentas
já existentes desde a época em que o suporte do pensamento era o
papiro...
A inteligência artificial, como toda
tecnologia, não existe para pensar “no
lugar de”, e sim para possibilidades “com”:
é preciso saber agenciar-se com ela para não se ficar escravo e servo voluntário
dela.
Como ensina o poeta Manoel de Barros:
“Não sou da informática, sou da invencionática.”
( este livro é apenas uma sugestão de leitura)
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