Na mitologia, Procusto era um
personagem de índole perversa, ávido por poder, que oferecia uma “cama”
fabricada por ele às pessoas que passavam cansadas por uma estrada.
Quando as pessoas se deitavam na tal
cama, porém, acontecia algo estranho: ninguém cabia direito nela. Quando a
pessoa era maior do que a cama , Procusto pegava um machado e decepava a cabeça
, deixando a pessoa acéfala ; ou então ele
cortava as pernas da pessoa , impedindo que ela ficasse de pé. Quando a pessoa
era menor do que a cama , Procusto amarrava as pernas e os braços dela com
correntes , esticando brutalmente até desmembrá-los...
Ninguém sobrevivia àquela cama
transformada em túmulo: querendo que cada um se amoldasse à força, Procusto
acabava violentando todo mundo.
Quando as pessoas protestavam,
Procusto pegava uma régua e media com rigidez militar a cama, e dizia autoritariamente
: “A cama é perfeita, normal, exata: cada lado é idêntico ao outro . A régua
não mente! O defeito está em vocês : diferentes e heterogêneos. Amoldem-se ,
mesmo que se violentando, e caberão na minha Verdade!”
A cama de Procusto pode receber
vários outros nomes: “Minha Opinião”, “Meu Dogma”, “Meu Credo”... O que não
couber em tais “fôrmas”, Procusto vingativamente corta, nega, mata – física ou
simbolicamente . Procusto odeia tudo que “não se pode passar régua”, diria o
poeta Manoel de Barros.
O mais triste nestes nossos dias é
que alguns, como obediente rebanho indo
para o matadouro , voluntariamente se deitam nessa cama negacionista . E assim perdem a cabeça : nada mais veem ou
pensam; ou então perdem as pernas , já não podendo ficar de pé, apenas de joelhos, como naquela cama-cercadinho em
Brasília na qual o Procusto-fascista se exibe para seus prostrados-acéfalos.
Mas qual o tamanho exato da cama de
Procusto? Qual a condição para se caber passivamente nela ? Somente cabem nela aqueles que aceitam
se reduzir à pequeneza.
(“Procusto” significa: “aquele que corta”. Em algumas versões, “Procusto” seria o apelido de um bandido sanguinário e covarde daquela época. Há outras versões nas quais Procusto constrói duas camas: uma maior do que todo mundo e outra menor que todos. Essas variações são comuns nos mitos, é por isso que eles existem para serem interpretados. Mas o trabalho de interpretação requer a atividade prévia de pesquisa do mito e suas variantes. Na interpretação que fiz, procurei contextualizar o mito em razão dos “Procustos” de hoje que nos ameaçam)
- Este mito de Procusto também pode
ilustrar o que é fascismo. Pois a palavra “fascismo” vem de um termo italiano
que significa “feixe”, um feixe composto por hastes
de madeira rigidamente amarradas até formarem um todo homogêneo, com cada haste perdendo sua singularidade, diferença e
iniciativa. Junto ao feixe está um machado, o machado que cortou as hastes. A
corda que amarra rigidamente as hastes representa a Ordem fascista ( Ordem não
muito diferente desta Ordem que está na bandeira brasileira sempre empunhada
pelos fascistas pseudopatriotas daqui...). O machado é o instrumento simbolizando o poder fascista,
um poder de destruir.
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