sábado, 21 de agosto de 2021

procustos: ontem e hoje

 

Na mitologia, Procusto era um personagem de índole perversa, ávido por poder, que oferecia uma “cama” fabricada por ele às pessoas que passavam cansadas por uma estrada.

Quando as pessoas se deitavam na tal cama, porém, acontecia algo estranho: ninguém cabia direito nela. Quando a pessoa era maior do que a cama , Procusto pegava um machado e decepava a cabeça , deixando a pessoa  acéfala ; ou então ele cortava as pernas da pessoa , impedindo que ela ficasse de pé. Quando a pessoa era menor do que a cama , Procusto amarrava as pernas e os braços dela com correntes , esticando brutalmente até desmembrá-los...

Ninguém sobrevivia àquela cama transformada em túmulo: querendo que cada um se amoldasse à força, Procusto acabava violentando todo mundo.

Quando as pessoas protestavam, Procusto pegava uma régua e media com rigidez militar a cama, e dizia autoritariamente : “A cama é perfeita, normal, exata: cada lado é idêntico ao outro . A régua não mente! O defeito está em vocês : diferentes e heterogêneos. Amoldem-se , mesmo que se violentando, e caberão na minha Verdade!”

A cama de Procusto pode receber vários outros nomes: “Minha Opinião”, “Meu Dogma”, “Meu Credo”... O que não couber em tais “fôrmas”, Procusto vingativamente corta, nega, mata – física ou simbolicamente . Procusto odeia tudo que “não se pode passar régua”, diria o poeta  Manoel de Barros.

O mais triste nestes nossos dias é que alguns, como obediente rebanho indo para o matadouro , voluntariamente se deitam nessa cama negacionista  . E assim perdem a cabeça : nada mais veem ou pensam; ou então perdem as pernas , já não podendo ficar de pé, apenas  de joelhos, como naquela cama-cercadinho em Brasília na qual o Procusto-fascista se exibe para seus prostrados-acéfalos.

Mas qual o tamanho exato da cama de Procusto? Qual a condição para se caber passivamente  nela ? Somente cabem nela aqueles que aceitam se reduzir à   pequeneza.

 

(“Procusto” significa: “aquele que corta”. Em algumas versões, “Procusto” seria o apelido de um bandido sanguinário e covarde daquela época. Há outras versões nas quais Procusto constrói duas camas: uma maior do que todo mundo e outra menor que todos. Essas variações são comuns nos mitos, é por isso que eles existem para serem interpretados. Mas o trabalho de interpretação requer a atividade prévia de pesquisa do mito e suas variantes. Na interpretação que fiz, procurei contextualizar o mito em razão dos “Procustos” de hoje que nos ameaçam)


- Este mito de Procusto também pode ilustrar o que é fascismo. Pois a palavra “fascismo” vem de um termo italiano que significa “feixe”, um feixe composto por   hastes de madeira rigidamente amarradas até formarem  um todo homogêneo, com cada haste  perdendo sua singularidade, diferença e iniciativa. Junto ao feixe está um machado, o machado que cortou as hastes. A corda que amarra rigidamente as hastes representa a Ordem fascista ( Ordem não muito diferente desta Ordem que está na bandeira brasileira sempre empunhada pelos fascistas pseudopatriotas daqui...). O machado  é o instrumento simbolizando o poder fascista,  um poder de destruir.




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