Eu ainda não havia despertado totalmente,
mas já sentia no ar a presença de um
novo dia que nascia. De repente, ouvi um som agudo provocado por
um bater de asas agitado e aflito que
passou roçando meu rosto. Abri então os
olhos: era uma pequena mariposa que se
aprisionou em meu quarto ainda um pouco escuro.
Não sei se era
uma jovem mariposa aprendendo
seus primeiros voos, sem confiança
ainda; ou se era, ao contrário, uma
mariposa já muito vivida querendo fugir do mundo, desiludida. O que sei é que
ela rodopiava atônita e perdida, como se estivesse presa num labirinto cujo centro era um vazio .
Levantei
da cama rápido querendo arranjar um jeito de auxiliar a mariposa a se
libertar daquele rodamoinho angustiante
que ela mesma criou para se atar.
Fui
à janela e a abri toda para que entrasse
a luz. Foi então que vi o dia...Que dia! Após uma noite
de chuva e frio , o céu abria-se
todo azul , enquanto o sol aquecia de novo tudo o que é vivo.
Com cuidado, cheguei perto da
mariposa e apenas lhe disse ( com a franqueza dos amigos que desejam o
bem um do outro) : “Com um dia desse, com essa amplidão para explorar voando,
você vem se enclausurar em meu quarto com medo!?Quem me dera ter suas asas...”
Juro: a mariposa foi acalmando
seu rodopiar aflito , reorientou suas
asas para novo sentido , parou de antecipar na imaginação os perigos,
emendou-se. Tomou coragem e atravessou
a janela, foi pro mundo, aceitou da liberdade o risco.
(imagem: “A mariposa”/ Van Gogh)
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