Sartre foi um dos maiores
pensadores de todos os tempos. Porém, ao
invés de teorizar nas academias, ele preferia
escrever e filosofar nos cafés e ruas . Já perto do fim da vida, quando passava por dificuldades financeiras, Sartre ganhou o
Prêmio Nobel de Literatura, que pagava uma
fortuna. Mas Sartre recusou o prêmio, dizendo que jamais se deixaria
comprar pelo dinheiro burguês.
Sartre foi muito perseguido pelos intolerantes
religiosos da época. Gritavam para ele: “comunista, ateu!”, como se isso fosse
o pior dos xingamentos. Sartre respondia que , antes de tudo, ele era
um humanista.
Sua fé era na história e no ser
humano, embora dissesse que o ser humano ainda era apenas um projeto a ser criado,
cuja criação dependia que se transformasse a sociedade para libertá-la das garras dos homens que são lobos de outros seres humanos.
Sempre provocativo, Sartre dizia mais
ou menos o seguinte:
“Sou humanista, porém combato o poder
falocrático e predatório do homem. Pois se nós perguntássemos às florestas o que elas
acham desses homens que as derrubam por
ganância, e se pudessem falar, as árvores diriam: esses predadores não são
seres humanos, eles são demônios! Se indagássemos aos mares e rios o que eles acham que são os
homens que os poluem com lixo industrial , os mares e rios diriam: são demônios
esses poluidores! Se perguntássemos aos animais que são caçados e exterminados por
caçadores que arrancam suas peles , cortam suas asas e decepam suas cabeças por mera diversão doentia, se perguntássemos a eles o que é o homem, esses animais diriam: é uma besta, um demônio! Como um ser demoníaco assim pode se
proclamar à imagem e semelhança de um Deus que ele diz ser do Amor? De minha parte, busco construir um
humanismo em relação ao qual os bichos,
as árvores, os rios, enfim, a própria terra não veriam nesse humanismo um carrasco , mas um amigo e aliado . E mais importante:
no meu humanismo o amor e a fraternidade entre os seres humanos não dependeriam de um Deus que a isso obrigasse. Pois meu humanismo é liberdade.”
Quando Sartre faleceu, seu cortejo
fúnebre percorreu as ruas lotadas de Paris, milhares de pessoas foram se
despedir do filósofo. Nem todos os que ali estavam concordavam com ele, tampouco
compreendiam totalmente seus escritos.
Mas o afeto presente em cada uma
daquelas pessoas do povo era o testemunho da seguinte lembrança : quando Paris
foi ocupada pelos nazistas e seu terror, Sartre não se escondeu, ele resistiu e
lutou , sempre à frente e com coragem, mesmo quando a liberdade parecia apenas
um sonho, uma utopia. Ser livre, dizia Sartre, é se engajar na luta contra os
inimigos da liberdade.
“Vida sem utopia, não entendo que exista.”(Caetano)
"É sempre com a utopia que a
filosofia se torna política (..): ela [a utopia] designa etimologicamente a
desterritorialização absoluta (..). A palavra empregada pelo utopista Samuel
Butler, 'Erewhon', não remete somente a 'No-where', ou a parte Nenhuma, mas a 'Now-here', aqui-agora." (DELEUZE & GUATTARI)
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