“A palavra abriu o roupão para mim : ela quer que eu a seja.” Amo esse verso de Manoel de Barros. Palavra que não traz gente dentro é só letra no papel. Escrever é um ato amoroso, um erotismo absoluto. Por isso, o poeta também disse: “Na ponta do meu lápis tem apenas nascimento.” Mas a palavra só abre o roupão para aquele que ela percebe que o ama. Unidos, apaixonados um pelo outro, a palavra e o poeta se tornam os genitores do novo olhar que nascerá em nós, se com desejo e paixão também os lermos. Então, “outra pessoa desabre em nós”, diz Manoel de Barros.
Mas há aqueles que odeiam as palavras porque odeiam , antes , as ideias. Eles vivem as violentando e estuprando com suas ignorâncias e preconceitos. Somente estuprada e violentada a palavra serve aos que nada têm a dizer. Os mais fanáticos deles consideram literatura e poesia coisa de bruxaria: eles não se contentam apenas em censurar , também querem lançar as ideias ao fogo, se possível junto com o autor que as gerou e pôs no mundo.
Sem que o saibam, porém, acertaram no nome: poetas e filósofos são feiticeiros e bruxos. E a maior feitiçaria deles é, com as palavras grávidas de ideias, promover saúdes , curas e benzimentos, nisto se parecendo com os feiticeiros da tribo tupinambá que benziam os guerreiros para que não os derrotassem os colonizadores.
“A grande poesia há de passar virgem por todos os seus estupradores.” (Manoel de Barros)
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