segunda-feira, 15 de julho de 2019

o batismo e a ameaça de óbito


No filme “O descobrimento do Brasil”, o cineasta Humberto Mauro tenta reconstruir o “batismo simbólico do Brasil”. Para se apropriarem da  terra recém “descoberta”, os invasores  adentram a densa floresta , machados em punho. Ignorando suas intenções  e desconhecendo o que era um machado, os índios os seguem. Quando os intrusos   invadem certa parte da floresta, os índios ficam tensos. Os invasores começam a apalpar as árvores. A tensão entre os índios aumenta. Quando os invasores  desferem a primeira machadada em uma das árvores, os índios saem correndo, como se tal golpe os tivesse atingido também. Os invasores  dão de ombros e derrubam outra árvore. Com os dois troncos, fazem uma cruz para o primeiro culto. Na praia, enquanto o culto  acontecia, os índios saem da floresta e se aproximam da cruz ,  lentamente . Chegam perto da cruz e a tocam , prostrando-se. Um dos invasores grita: “Vejam: até esses animais que parecem homens se curvaram à nossa religião!”. Mas o que os índios viam ali não era a cruz...Eles viam dois Ancestrais sequestrados de seu território sagrado e feitos prisioneiros. Aquelas árvores arrancadas eram um mesmo corpo ( ou significante) com dois sentidos  diferentes, e um dos sentidos queria exterminar o outro. No campo imaterial e simbólico  também ocorrem violências e perseguições  , quando a ideia de “Verdade” é usada como  arma “político-teológica” para  destruir  à força o sagrado  de outro povo . Pierre Clastres chamava de  “etnocídio” tal violência simbólica  ( já o genocídio é o extermínio total de um povo ). Estamos agora diante de uma nova aberração política  representada pelo governo bozo. Se o filme de Humberto Mauro mostra o funesto batismo que está no nosso passado ,  esse governo protofascista parece querer escrever  o atestado  de óbito do nosso futuro enquanto nação, ao ser genocida com os pobres e as minorias do nosso povo  e etnocida com a universidade, a cultura e  a educação.



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