No filme “O descobrimento do Brasil”,
o cineasta Humberto Mauro tenta reconstruir o “batismo simbólico do Brasil”.
Para se apropriarem da terra recém
“descoberta”, os invasores adentram a
densa floresta , machados em punho. Ignorando suas intenções e desconhecendo o que era um machado, os
índios os seguem. Quando os intrusos invadem certa parte da floresta, os índios
ficam tensos. Os invasores começam a apalpar as árvores. A tensão entre os índios
aumenta. Quando os invasores desferem a
primeira machadada em uma das árvores, os índios saem correndo, como se tal
golpe os tivesse atingido também. Os invasores dão de ombros e derrubam outra árvore. Com os
dois troncos, fazem uma cruz para o primeiro culto. Na praia, enquanto o
culto acontecia, os índios saem da
floresta e se aproximam da cruz ,
lentamente . Chegam perto da cruz e a tocam , prostrando-se. Um dos
invasores grita: “Vejam: até esses animais que parecem homens se curvaram à
nossa religião!”. Mas o que os índios viam ali não era a cruz...Eles viam dois Ancestrais
sequestrados de seu território sagrado e feitos prisioneiros. Aquelas árvores
arrancadas eram um mesmo corpo ( ou significante) com dois sentidos diferentes, e um dos sentidos queria
exterminar o outro. No campo imaterial e simbólico também ocorrem violências e perseguições , quando a ideia de “Verdade” é usada como arma “político-teológica” para destruir à força o sagrado de outro povo . Pierre Clastres chamava de “etnocídio” tal violência simbólica ( já o genocídio é o extermínio total de um
povo ). Estamos agora diante de uma nova aberração política representada pelo governo bozo. Se o filme de
Humberto Mauro mostra o funesto batismo que está no nosso passado , esse governo protofascista parece querer
escrever o atestado de óbito do nosso futuro enquanto nação, ao
ser genocida com os pobres e as minorias do nosso povo e etnocida com a universidade, a cultura e a educação.
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