Segundo a psicanálise, o superego é a
instância responsável pela censura e crítica ao ego, ao eu. O superego é como
um juiz que sempre condena o ego ( sem precisar de provas). Às vezes o superego também age como um policial, um "tira" dentro da mente. É para
“agradar” ao superego que o ego constrói para si uma imagem ideal de perfeição a alcançar: um
“ideal de ego”. Como toda idealização, essa perfeição é inalcançável e torna o
ego frustrado consigo mesmo. A infelicidade do ego é o prazer do Superego. Essa
frustração, porém, retroalimenta no ego o mecanismo de idealização em busca de
uma perfeição de servo, de servo voluntário do superego. O ego é , ao mesmo
tempo, reprimido pelo “policial interno”
e repressor do insubmisso que vive dentro dele: o id
( o inconsciente). Mas ego e id não são reprimidos da mesma maneira. Pois
o id é a própria energia da qual se
apropriam superego e ego para se voltarem contra a vida. O superego é como o
Estado que construiu uma represa, o ego é a própria represa, enquanto o id é o
fluxo do rio do qual a represa deixa passar uma parte para assim fazer girar
seus dínamos.
Hoje,
o superego migrou para fora e se
fez poder teológico-político : o Estado
moral-policialesco , protofascista, é ,ao
mesmo tempo, o seu quartel e templo . Por outro lado, nas sociedades da ideologia do
mercado o ego ganhou força e reivindica sua identidade contra toda idealização de si mesmo , buscando o prazer sem culpa. Isso abriu um
pouco mais a comporta entre o ego e o id : o ego recebeu mais energia, porém a
capitalizou narcisicamente sobre si, sem conectá-la com a produção
coletiva do social e comum . O ego despotencializou o fluxo do id até ele
virar apenas um volúvel
"líquido" . Onde antes imperava a rigidez do superego, agora
tudo escorre como "realidade líquida": as relações, os sentimentos,
os projetos, a política. Porém , o id não é e nunca será coincidente com a
identidade de um ego . O id não
é um eu em esboço . O id é multiplicidade enquanto Potência não egoica do Desejo.
Deleuze e Guattari dizem que o id é um
"Amnésico": ele não tem
memória, tal como a tem todo ego . Inexiste no id uma identidade prévia ao que , se
reinventando, ele se torna . Em um de seus poemas, Manoel de Barros nos fala também
de um “amnésico” : o “ Seo Antônio Ninguém”, um nômade-andarilho do
Pantanal. Rio que nenhuma represa pode conter se torna Pantanal ao transpor suas próprias margens , para assim
alcançar terras das quais não se tem memória: terras
novas . Pantanal, diz Manoel, é "realidade onde ninguém pode passar
régua".
Deleuze, Guattari & Manoel |
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