terça-feira, 12 de junho de 2018

manoel, francisco e o rouxinol

Quem canta
ora duas vezes.
(Santo Agostinho)
                                                                                    
São Francisco monumentou os passarinhos.
(Manoel de Barros)

De pés descalços,
ele dançou diante do Papa.
(Deleuze)

Pedras viravam rouxinóis...
(Manoel de Barros)



Monumentar passarinhos

Em meio às ruínas de um templo,
nu de  portas, paredes   e teto,
extintas preces se foram sem deixarem eco,
apenas húmus e pó ali tomavam assento.
                                                       
Foi nesse templo ao vento aberto,
chão da chuva e do sol caídos do céu,
foi na ruína do altar deserto
que Francisco viu pousado um rouxinol.

Na madeira da cruz  um ninho ele fizera,
para ali guardar sua cria  inocente.
E a cruz se fez de novo  árvore vivente,
para ser o lar da  vida em primavera.

Então, o rouxinol cantou a Francisco...

Sem precisar de sermão ou palavra,
Francisco ouviu, com o coração,
 a aleluia dos vivos poetizada.

Calçando nos pés as estradas,
pôs como chapéu o firmamento.
Em diferentes seres aprendeu a ler uma diferente página,
do infinito Livro cuja Lei é o encantamento.


















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