Às vezes
começa-se a brincar de pensar,
e eis que inesperadamente o brinquedo é que
começa a brincar conosco.
Clarice
Lispector
Segundo Manoel de Barros, toda invenção é um exercício de
“imitagem” , ao modo de um camaleão: “Inventar comportamento” , diz o
poeta, “é ir imitando os camaleões sendo pedra sendo lata sendo lesma”
, pois “os comparamentos matam a
comunhão”. Singularizar-se não é
colocar-se como um todo à parte, egoicamente, mas aprender uma forma de comunhão por
imitagem, como parte de um agenciamento. A imitagem não nasce de um comparar-se
para medir-se com o outro, na pretensão de ser maior ; tampouco a imitagem é um
tornar-se mera cópia de um Modelo ou Padrão. A imitagem é a produção de uma
variação por contágio , como nos ensina
a pequena menina, em sua fabricação
brincativa de um estilo . Em toda imitagem há uma aprendizagem não escolar de uma diferença
que se afirma compondo-se, em liberdade. Em sua imitagem, é a menina, e não o
quadro, a obra de maior arte.
Na mito, as “Musas” são filhas de
Zeus, o deus da Justiça, e Mnemósyne, a
deusa da Memória. “Museu” vem de “Musa”. Em grego, “Musa” significa “conhecimento”. Não um conhecimento de coisa
ou objeto, mas conhecimento de algo que se fez e que não pode ser esquecido. As
Musas nasceram para celebrar e co-memorar ( “criar memória”) um feito de Zeus:
ele derrotou as forças da barbárie que ameaçavam a comunidade . As Musas, deusas das artes, nasceram para nos fazer lembrar que se pode
vencer a barbárie.
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