Quando somos crianças , as coisas que
fazemos não duram apenas o tempo em que aconteceram, nunca de fato o que se fez
termina. Pois à medida em que avança o tempo, retorna à nossa vida o acontecido
como parte de uma memória que vai cada
vez crescendo, parecendo muitas vezes mais real e viva do que a realidade na
qual fomos criança.
Quando o homem tem 60 ou 70 anos, por
exemplo, o que ele fez ao 8 ainda está a fazer-se dentro dele. Porém, o que ele
faz nos mesmos 60 ou 70 pode não mais voltar a reviver pela memória: talvez não haja mais um
outro ele mesmo, num futuro próximo, para rever a si mesmo na continuidade de um processo aberto,
sempre a refazer-se. Além disso, quando evocamos essa infância revivida, nunca é só a memória que a traz de volta, pois também desse reviver a imaginação participa.
Assim, o que se faz aos 7 ou 8 anos o fazemos com nossa idade toda, que nunca sabemos ao certo qual será ela toda, de tal modo que aquilo que fazemos no começo traz essa força do que sempre retorna como na primeira vez que em que fora feito e vivido.
Assim, o que se faz aos 7 ou 8 anos o fazemos com nossa idade toda, que nunca sabemos ao certo qual será ela toda, de tal modo que aquilo que fazemos no começo traz essa força do que sempre retorna como na primeira vez que em que fora feito e vivido.
Na adolescência e juventude também
tudo o que fazemos traz nossa vida toda ainda por viver, porém
em rascunho mais fraco do que na
infância. Isso se deve ao fato de que já não somos mais todo brincadeira, nossa
mente já não é mais criadora do lúdico: o futuro se torna um plano cronometrado,
mensurado, como se o tempo por vir apenas existisse para realizar nossos objetivos
planos.
Quando se chega aos 50 anos, contudo,
parece que aquilo que fazemos não traz mais a virtualidade de nossa vida
inteira por vir. O futuro se torna horizonte
reduzido ao ato, ao aqui e agora. Isso pode levar lentamente ao desespero ,
como perda do futuro, tempo do desejo. O
maior desespero pode advir da não aceitação do tempo, trazendo uma fixação
obsessiva em manter-se como na
juventude, mas apenas por fora, na aparência.
Mas o começo dessa idade pode também
inaugurar uma atitude nova, pois é nela, e não aos 30 ou 40, que pode começar a
ganhar força essa percepção da
virtualidade do todo da vida, todo este que nunca se esgota nos 50, ou 60, ou
70...
É por volta dos 50 que pode nascer essa percepção não totalmente racional ou pragmática , uma percepção filosófica-poética , desse todo da vida na infância começado, e cujo fim deve ser vivido como se o viveu em seu começou: na inocência .
Quem envelhece com essa compreensão, talvez a “velhez” não o pegue: “Quando crescer vou virar criança” ( Manoel de Barros).
É por volta dos 50 que pode nascer essa percepção não totalmente racional ou pragmática , uma percepção filosófica-poética , desse todo da vida na infância começado, e cujo fim deve ser vivido como se o viveu em seu começou: na inocência .
Quem envelhece com essa compreensão, talvez a “velhez” não o pegue: “Quando crescer vou virar criança” ( Manoel de Barros).
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