Meu quintal é maior do que o mundo.
Manoel de Barros
Quando Proust diz : "Mais
importante do que viajar para conhecer paisagens novas, é ‘conhecer’ de forma
nova a paisagem habitual”, o primeiro conhecer e o segundo são iguais apenas na
palavra, na forma , pois eles não expressam o mesmo ato, nem possuem o mesmo
conteúdo. O primeiro conhecer busca uma paisagem já conhecida por alguém diferente de nós, para o qual ela é uma paisagem habitual,
“acostumada” . Para este outro, porém, nova seria a paisagem habitual nossa,
que talvez ele sonhe em conhecer.
Semelhante a uma “miopia existencial”, nossa visão acostumada imagina que o novo e o diferente só podem ser vistos
em lugar afastado do nosso quintal. Assim vistos, o novo e a diferença são mais
fantasiados do que propriamente experimentados realmente, parecendo que essas
paisagens novas apenas existem para que possamos tirar “selfies” e ostentá-las
, com elas atrás de nós, e não dentro, como experiência também mental ( da qual
não se pode tirar fotos).
O segundo conhecer, o que descobre o
novo no seio do acostumado, desfazendo-o, abre em
nós olhos de recém-nascido : “outro ser desabre em nós”(Manoel de Barros). Esse
segundo conhecer é ainda conhecer, ele não é ignorância ao modo de Sócrates ( o
“só sei que nada sei”), pois não há nenhuma virtude ou potência na ignorância,
mesmo “Douta”. É sempre no conhecer que está a potência libertária, pessoal ou
coletiva. Sobretudo quando ele se apoia em uma “visão fontana”, como diz Manoel
de Barros, que torna o conhecer e o (re)descobrir
atividades sinônimas.
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