Diante
de minha janela existe uma pracinha. Nela, mães passeiam com seus bebês em
carrinhos. Reparei que quase todos os carrinhos possuem um tipo de cobertura
removível, que permite ao bebê uma visão completa do céu. Fiquei pensando no
impacto da primeira imagem do céu
sobre a personalidade em embrião da criança.
Como um espelho que recebe mas também absorve e retém aquilo que nele se reflete, talvez a
personalidade das crianças assuma as mesmas cores e ares da paisagem primeira que as
afetou.
O
CÉU DE SÊNECA.Os nascidos em abril e maio veem um céu de um azul calmo e
transparente, em cuja profundidade um sol em pontilhado derrama seu amarelo sem
crispar ou se intumescer. Um céu como véu transparente , que cobre, sem
esconder, o profundo infinito. A imagem de tal
céu imprime um caráter contemplativo e sereno àqueles que nascem sob seu
cobertor sem margens.
O
CÉU DE SHOPENHAUER.Os nascidos em junho ou julho veem um céu espesso, cinza
compacto,um céu de inverno, que empurra o espírito para dentro de si mesmo e de
sua caverna. Instalados dentro de si mesmos, os nascidos sob tal céu tendem à
introspecção e ao exame pessimista dos fatos, incluindo os fatos da política e
os do amor.
O
CÉU DE EPICURO.Os nascidos em setembro veem um céu onde tudo se prepara para
nascer: céu de primavera. Um otimismo inconsciente, tal como aquele que impele
o embrião a crescer, impregna-lhes as
retinas.
O
CÉU DE NIETZSCHE. Os nascidos em novembro e dezembro veem um céu em chamas, de
um sol imperador. São almas em busca de seus extremos e ultrapassamentos, a
brincar de equilibrar-se sobre a linha de seus próprios limites. São almas sempre preparadas para saltar por sobre
a linha, atraídas pelo abismo, pelo excesso e pelo seu mais adorado Deus: o
risco.
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