Em sua Ética,
Espinosa dá especial importância a uma virtude: a fortaleza. Em latim,
“fortitudo”. Alguns traduzem “fortitudo” como “força do ânimo”. A
palavra “ânimo” expressa a unidade da mente e do corpo quando agem. O “des-ânimo”
é a despotencialização do nosso ânimo, do nosso poder de agir.
“Virtude”
significa “força”. Não a mera força física ou bruta, mas a força potencial .
Originalmente, “virtu” designava a força que nasce de uma fibra , fio ou corda,
quando são tensionados e “vibram”.
Por
exemplo, o violão somente produz música se suas cordas forem vibradas; o arco
só pode lançar suas flechas longe se sua corda for tensionada ; o
próprio coração , ao pulsar, faz suas fibras vibrarem para impulsionarem o
sangue por todo o corpo.
Da mesma
maneira, ideias que fazem pensar levam a mente a vibrar, abrindo-se para o
mundo. Coragem, indignação,
generosidade, solidariedade, empatia, senso de justiça...são virtudes que ,
para virarem ação sobre o mundo, requerem fibra naqueles que as
sentem, para que neles elas vibrem.
Segundo
Espinosa, a fortaleza é o ninho que dá guarida a todas as virtudes e as
protege, como um escudo. Sem fortaleza, não há filosofia, ética, conhecimento,
vida digna. A fortaleza-virtude é força, mas não é violenta; ela tem
potência, porém não é soberba; ela é firme, sem ser rígida.
Uma
fortaleza não precisa de muros ou cercas, e disso a flor
de lótus dá o testemunho: ela desabrocha e persevera sendo ela mesma
a despeito de ao redor dela predominar a lama. A
fortaleza da flor de lótus é a força que lhe é imanente, e que a
lama não turva ou toca. Na sabedoria oriental, a flor de lótus é considerada o
símbolo da sabedoria prática.
Epicteto foi
feito escravo em Roma , como aqui Dandara e Zumbi . A filosofia foi, para
Epicteto, a sua Palmares: quando o poder quer nos agrilhoar (
simbólica ou fisicamente ), são Quilombos que precisamos
edificar, dentro e fora da gente. Não por acaso, na língua banto
“fortaleza” é “quilombo”.
A fortaleza que
protege uma sociedade livre e independente não é feita de muros ou arame
farpado, a fortaleza de uma sociedade soberana é a democracia direta e participativa.
E anteontem foi o dia de nascimento de Mercedes Sosa ( ela faria 90 anos). Letra-poema de Violeta Parra:
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