sexta-feira, 18 de julho de 2025

O poder teológico-político

 

O  excelente e imperdível novo documentário de Petra Costa me fez lembrar   o livro “Tratado teológico-político”  , de Espinosa.

No livro, o filósofo  descreve o fenômeno da “credulidade”. No fundo de toda credulidade  vigora o medo. Não o medo que pode nascer em quem enfrenta reais perigos, mas o medo ressentido que prostra e cega. O que Espinosa descreveu em palavras, Petra mostrou em som e imagens.

Segundo Espinosa, é o medo  o sentimento que melhor define a condição de servo voluntário.

“Credulidade” não é a mesma coisa que  “fé”. A autêntica fé não nega  a ciência, já a credulidade é neg4cionista do conhecimento.

 A fé é movida  pelo amor, mas é o ódi0 o combustível da credulidade. A fé busca a justiça e age em favor dos pobres , a credulidade troca a cruz por arm4s e faz da religião um vil negócio. A fé almeja alcançar Deus, a credulidade em tudo vê o “Diabo”.

A credulidade se traveste de religião, mas é na verdade  projeto de poder obscur4ntista  :  poder teológico-político.

 A credulidade é rasa, rasteira: por não conseguir alcançar a profundidade do sentido que há nos textos sagrados, ela imagina  que berrando e gritando se fará ouvir  pelo  Espírito Santo.

A credulidade é produtora de fantasia. Essa  fantasia  retroalimenta a credulidade, criando assim um mundo paralelo à parte, mas que é visto pela credulidade como  “Mundo Verdadeiro”. Não por acaso, a palavra “Verdade”  está sempre na boca delirante da credulidade.

Fantasia não é a mesma coisa que criatividade. As crianças nascem fantasiosas, porém nem todas conseguem desenvolver a criatividade.

Quando a criança, movida pelo medo, imagina haver um monstro debaixo da cama, o monstro  é produto de sua fantasia, embora a criança ignore isso.

Mas se a criança ,  ludicamente, cria uma história onde há um monstro, ou simplesmente desenha um monstro e fabula uma narrativa , a criança aprende que o monstro é criação de sua mente, de tal modo que, se ela o criou, também o pode derrotar, criando igualmente o personagem corajoso  que enfrentará e  vencerá o monstro. Criança que assim  brinca aprende a esconjurar o medo. O medo apequena a mente, já a criatividade  faz a mente  crescer e se horizontar.

Toda criança nasce fantasiosa, porém para haver o despertar da criatividade é preciso criar meios socioeducacionais que potencializem o imaginar pensante nas crianças.

Os tir4nos estão sempre perseguindo os criativos  e colocando “monstros” debaixo da cama dos ignorantes, assim infantilizando, pelo medo,  os homens.

Homens infantilizados são incapazes de se autogovernarem, terminando  por se submeterem ,  pela credulidade,    ao poder teológico-político acumpliciado com tir4nos.

“Comunista”, “vermelho”... são os “monstros” que o poder   teológico-político  colocou    debaixo da cama dos acorrentados à credulidade ,   para assim ludibriá-los e levá-los a crer delirantemente que  um mero ladrão de joias traidor da pátria é um “Messias” que irá salvá-los.

Esse poder teológico-político vem perdendo força, seu “Messias” só engana hoje incautos incuráveis da credulidade. Mas é preciso continuarmos atentos .

 



Esta música de Nelson Cavaquinho é parte da trilha sonora do filme de Petra:








 





"Pessoas que se enquadram cegamente no coletivo fazem de si mesmas meros objetos materiais, anulando-se como sujeitos dotados de motivação própria. Inclui-se ai a postura de tratar os outros como massa amorfa. Uma democracia não deve apenas funcionar, mas sobretudo trabalhar o seu conceito, e para isso exige pessoas emancipadas.

Só é possível imaginar a verdadeira democracia como uma sociedade de emancipados. A única concretização efetiva da emancipação consiste em que aquelas poucas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia para que a educação seja uma educação para a contestação e para a resistência". ( Trecho do livro Educação e Emancipação, de Theodor Adorno)


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