segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

cláudio, o tordo , o ipê e gonzagão

 

Dia desses conversava com a querida Sílvia Ulpiano acerca de uma belíssima aula de Cláudio Ulpiano na qual ele narrava algo extraordinário que fazia não um poeta , um educador ou  um libertário, mas a reunião de um poeta, de um educador e de um libertário  num único ser alado e canoro: o passarinho tordo. Quando vem o fim da tarde, esse poeta da natureza sobe ao galho mais elevado de sua árvore e canta para o sol que lhe dera um dia. É um canto de gratidão, resistência  e afirmação da vida, um canto de “Amor Fati”. Quando o sol se põe, na borda do céu perto do horizonte tudo fica colorido de púrpura. O púrpura nasce da composição da cor azul, a cor dos celestamentos ( diria   Manoel de Barros) , com o vermelho, cor da vida, cor do sangue ( não enquanto este é derramado na violência e barbárie, mas quando corre nas veias e irriga o corpo de oxigênio, alimento e vida ). Quando o tordo assim canta, ele corre riscos. Pois soturnas aves de rapina ficam  à espreita para predar o tordo-libertário. Mesmo correndo  riscos, o tordo não se cala e , cantando, se horizonta ao céu-púrpura aberto e ilimitado.

Essa prática do tordo e seu céu púrpura  me lembrou o ipê, cuja floração também pode ser púrpura. Tentei segurar a imaginação, porém não consegui...Fabulei então criarmos um novo país, um país que seria construído  onde hoje fica o Nordeste, incorporando também o Maranhão ( agora livre da oligarquia medieval que ali dominou). Esse país receberia novo nome: Pindorama. A bandeira teria as  cores do ipê: o branco, o amarelo , o rosa e o púrpura. No centro da bandeira teria um tordo cantando nos galhos de um ipê, sua plural e multicolorida casa. Que esse tordo  nos proteja dos predadores, dos tucanos , das víboras,  das hienas , dos obscurantistas e seu doentio culto à morte e às armas. Como hino, nada de marchas militares falocráticas . Nosso hino seria um baião de Gonzagão acompanhando o canto do tordo.

( ontem, 13 de dezembro : data de nascimento de Luiz Gonzaga, o “Gonzagão”)






      ( no vídeo, o grande maestro Messiaen vai à floresta aprender lições de um tordo)






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