Há um poema de Manoel de Barros no
qual ele descreve o anúncio e a chegada da chuva no Pantanal ermo. O dia foi
quente, seco, árido, sufocado. Já finda a tarde, vem a noite, escurece
rápido. O cheiro de terra molhada
anuncia a chegada da chuva . As plantas
, os grãos, os bichos... tudo o que é vivo esperava por ela, dela precisava.
Então, a chuva vem e envolve tudo. A
noite fica muito escura, não se vê nada. De quando em quando, porém, risca o
céu um relâmpago parecendo o flash de uma máquina fotográfica. Nesse ínfimo
instante, o clarão a tudo ilumina e faz parecer dia, semelhante à intuição de
Espinosa clareando a natureza
infinita. Depois que o relâmpago passa,
retorna a escuridão que cega e não deixa ver nada. Mas logo vem outro clarão e
orienta o poeta a avançar na direção certa.
O relâmpago é lanterna celeste
que mostra a trilha no chão. E quando o clarão de novo acende, o poeta
retém na memória o caminho que o clarão iluminou. Assim o clarão emana agora
dos olhos do poeta: mesmo no escuro, o
poeta ao caminho enxerga , para que nele possam seguir adiante as pernas. Apesar
da noite tremenda que o cerca, o clarão do relâmpago é farol mais potente do que milhões de
lâmpadas elétricas , orientando o
poeta no retorno à casa. E assim o poeta
avança com sua palavra poética : clarão
que guia apesar das trevas.
- livro: "O clarão de Espinosa"
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