domingo, 1 de outubro de 2017

horizontar-se

Quando a nave está pousada na terra, há um chão embaixo. Quando a nave se alça e sai dos limites da atmosfera, há céu não apenas acima e dos lados, como também embaixo. Torna-se inútil ter pés e pernas, pois já não há chão que possa  servir de apoio e lastro. Tudo se torna acima, mesmo o que está abaixo.
É lá no fim do abismo que está o inferno, dizem os que creem no diabo. Estes vivem olhando para baixo. Mas abismo é um fundo abaixo dos pés, região escura na qual a chama queima os pecados. A fogueira do inferno é só para queimar, não é para iluminar a noite de quem quer explorar desconhecidos espaços. 
Porém, céu não é abismo, céu não é fundura, céu é altura que se eleva sem que se lhe oponha uma baixeza escura. Se tudo é céu , tudo é só altura, a qual somente se alcança na altivez de um pensamento que deseja o  infinito. Nesse céu em todas as direções  a única chama que há é a dos astros, progenitores estelares da chama viva que é o calor de nosso  corpo.

A mente é como essa nave. No entanto, muitos a vivem como se fosse um veículo apenas terrestre, um carro.  Assim, perece o combustível antes mesmo que ele seja usado para o pensamento se desterritorializar, alcançando seu meio infinito,  sua imanência , seu horizontado espaço. 



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