domingo, 22 de outubro de 2017

manoel: o guardador de águas

Poeta é ser que  vê semente germinar.
 Manoel de Barros


No poema O guardador de águas, Manoel de Barros descreve o seguinte acontecimento  : sob um  monturo de restos de folhas  apodrecidas   e farrapos do que outrora respirou e foi vivo, sob tal monturo que a natureza recolheu sem preconceito ou condenação, no ventre desse casulo úmido uma semente despertou: libertou-se dela um pequeno dedo, que virou mão tateando o escuro, depois braço que achou o caminho .Uma linha de fuga foi-se desenhando, transmutando o túmulo em útero .Movia este rascunho de  vida o desejo de ver o sol, o sol que tal vida nunca viu. Mas algo nela sabia da existência do que nunca viu ou conheceu, e este algo não era memória ou razão, talvez fosse viva imaginação a inventar sentido para vencer passividade e resignação. O embrião de futuro  perfurou o monturo do passado morto, fazendo-se verdez de broto   cantando a potência  de existir.  



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