Poeta é ser que vê
semente germinar.
Manoel de Barros
No poema O guardador de águas, Manoel
de Barros descreve o seguinte acontecimento
: sob um monturo de restos de
folhas apodrecidas e farrapos do que outrora respirou e foi
vivo, sob tal monturo que a natureza recolheu sem preconceito ou condenação, no
ventre desse casulo úmido uma semente despertou: libertou-se dela um pequeno
dedo, que virou mão tateando o escuro, depois braço que achou o caminho .Uma
linha de fuga foi-se desenhando, transmutando o túmulo em útero .Movia este
rascunho de vida o desejo de ver o sol,
o sol que tal vida nunca viu. Mas algo nela sabia da existência do que nunca
viu ou conheceu, e este algo não era memória ou razão, talvez fosse viva
imaginação a inventar sentido para vencer passividade e resignação. O embrião
de futuro perfurou o monturo do passado
morto, fazendo-se verdez de broto
cantando a potência de existir.
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