quinta-feira, 1 de junho de 2017

navalhas

O amor passou voando perto de mim.
Roçou-me no ser suas asas,
de saudades sangrei.                           

Voa o  amor às vezes  com navalhas,
e fere quem por ele esperava,
sonhando uma   segunda  vez.













OUTONAIS

Nesses dias de outono, gosto de caminhar ao fim da tarde, na hora em que o sol, já com saudades, se vai a olhar para trás, a procurar da lua os sinais.
Essa hora o relógio não sabe qual é, mas a sabem os morcegos e pardais: é a hora em que  estes  se preparam para dormir, enquanto aqueles inauguram voos vesperais.
Gosto de andar olhando esse quadro sendo pintado, no qual o esboço já é o resultado dos azuis pincelados  em primeira e única demão : perto de onde se põe o sol o azul se estica num grau mais claro, enquanto do outro lado um azul anoitado se torna o tapete no qual as estrelas entrarão.
Porém, não deixo de perceber o que acontece ao meu redor também : vejo o trânsito e seus sinais, reparo nas pessoas, nos olhos delas olhando bem. 
Estranhamente, a visão desse firmamento me faz sentir as pequenas coisas cotidianas existindo mais. E sigo caminhando entre as gentes e coisas, atento ao que acontece, porém a olhar o céu acima e por detrás.
Tal experiência não me isola dos demais. Não almejo ascensões astrais. Ao contrário, parece que vejo mais, que faço parte do que acontece como alguém que segue,  mas sem seguir atrás. 
Sinto-me fazendo parte ainda mais, parte da rua, do bairro, da terra, do infinito, da humanidade , das plantas e dos animais.  
Essa experiência é o oposto do que vejo fazer os que vivem de olhos grudados em celulares e que tais. Eles se isolam dos outros e de si mesmos, embora se imaginem únicos, os tais.  Vão de cabeça baixa, com olhos desumanizados  a procurar por gente nos desertos  virtuais.





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