O carnaval é uma festa muito antiga.
Ou melhor, o carnaval é o protótipo das festas. Entretanto, o nome “carnaval” é
mais recente do que o acontecimento que tal nome designa. Quando foi inventado pelos romanos, para designar uma prática que o antecedia e que vinha de outro
povo, esse nome expressava mais a distância de que se estava
do acontecimento do que propriamente sua essência. “Carnaval”, como “festa da
carne”, é um nome que se deu ao rio quando este já se ia muito longe de sua
fonte. “Festa da carne” não traduz exatamente o que era, em sua origem, o que
hoje chamamos de carnaval.
Sua origem se confunde com o começo
mesmo da Grécia. Não a Grécia de Platão ou Aristóteles, Grécia historicamente
estabelecida. A Grécia na qual nasceu a festa é uma pátria sem fronteiras demarcadas, nem ocidente e nem
oriente, escondida na história e dentro da alma de cada homem que , ainda hoje,
sente a necessidade , idêntica ao desejo, de pôr uma fantasia , e ser uma
fantasia. Talvez a essência do carnaval não esteja escondida apenas dentro da alma
inconsciente do homem, mas de tudo o que
tenha vida.
Pois é este o sentido genuíno da festa:
libertar a vida do homem, desaprisioná-la da rotina e ritos, para assim
suspender o império da consciência. Foi isso que ensinou Dioniso aos homens: tornar
a vida de novo inocente, sem culpa, sem memória do ontem e sem expectativas do
amanhã. Foi Dioniso quem ensinou a festa aos homens. Ele os ensinou a brincar
como suprema brincadeira o existir.
Era em festa que se seguia Dioniso. A
ocasião dessas festas era a colheita. O produto assim extraído da terra não era
posse particular de ninguém, tampouco existia para ser acumulado. Colhe-se o
que se plantou. E o que se plantou foi colocado no ventre da terra. Esta
somente pode gerar novamente vida se de novo estiver fértil. Na plantação que
se fizera a terra se deu e expirou,
morreu. A festa é a celebração de novamente haver um começo. A festa nasceu
como triunfo da vida em relação à morte, simbolizado pela terra que renasce em
cada colheita.
E era isto a vida para os gregos: um
triunfo. Não o triunfo de uma vida sobre outra vida, mas triunfo da vida sobre
o seu fim. A festa é o renascer da terra acontecendo no nascer do fruto novo.
Quando nascem, nus e de olhos
fechados,os homens nada sabem, por isso choram. A festa é o nascer sabendo-se,
mas sem que se possa conhecer o porquê de se nascer, e nem para isso buscar,
com teorias, uma finalidade no distante.
Se os bebês nascessem sabendo o que é o morrer, e que seu nascer é um triunfo,
decerto que nasceriam festejando.E como vinho beberiam o seu puro leite,
embriagando-se.
(Attika, orquestra grega de mandolins)
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