Sonhar é acordar-se para dentro.
Mário Quintana
( em verso, o original)
Um sonho tive ontem:
do coração eu era operado.
O tão temido médico esperado,
ao entrar, tranquilizou-me:
pois o cirurgião era o poeta Fernando Pessoa.
Sabedor do meu caso, ele me disse:
“só a poesia pode operar um coração adoecido”.
Após abrir meu peito,
o poeta pôs em sua mão meu coração
e o avaliou com peso excessivo.
Nada restava a fazer,
senão cortar o que nele era peso.
Ao invés de músculo ou nervo,
o poeta foi extraindo do meu coração
o mal que o sobrecarregava:
do meu coração ele extraiu a descrença,
a desconfiança
e toda mágoa.
No fim da operação,
o poeta tinha em sua mão
um diminuto coração que mal preenchia o meu peito.
Temendo não sobreviver com ele,
disse ao poeta que daquela operação
eu não sairia sobrevivente.
“Do seu velho coração, disse-me o poeta,
extraí o que doía e deixei a parte imortal:
deixei o coração de criança como semente."
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