Na mitologia,
Eros, o Amor, era representado portando uma flecha. Essa imagem de Eros com a
flecha se torna comum a partir do Helenismo. Mas pouco é mencionado que Eros também trazia consigo uma tocha.
A flecha era
para atingir o coração. Não era, portanto, uma flecha bélica, não era uma
flecha que mirava “calcanhares”, como aquela que vitimou Aquiles em seu ponto
fraco; tampouco era uma flecha para m4tar , como aquelas flechas cov4rdes que
crivaram São Sebastião , o padroeiro do Rio de Janeiro ( hoje, essas flechas
ass4ss1nas são as balas que vitimam os moradores das favelas e periferias da
cidade de São Sebastião...).
A flecha de Eros
era semelhante à agulha de uma vacina: assim como a vacina inocula o remédio, a
flecha de Eros inocula o amor transmutador no coração que ele atinge.
Mas enquanto a
flecha se endereça apenas ao coração , a tocha do Amor ilumina por dentro o ser
inteiro que ela inflama, pois essa tocha simboliza a ardência da paixão.
E os seres que mais ardem com a chama dessa
tocha são aqueles que também emanam luz, como se tivessem “um sol dentro de
si”, como dizia Nietzsche. Quem traz um sol assim ilumina em torno e mostra
caminhos , mesmo que ao redor haja trev4s.
Essa paixão
gerada pela tocha de Eros-Amor nada tem a ver com o sentido restrito da “paixão
romântica”, uma vez que se trata de uma paixão no sentido mais amplo, como a do
pintor que se apaixona pelas tintas, ou do músico que se apaixona pelo som , ou
do poeta que se apaixona pela palavra, ou do revolucionário que se apaixona
pela transformação do mundo.
Quando o clarão da paixão irradia dos seus olhos apaixonados e ilumina as
tintas, o pintor vê nelas girassóis
ainda por criar, ainda por nascer, como viu Van Gogh. Quando o lume da
paixão ilumina as palavras, o poeta vê nelas outros “mundos por transfazer”,
como viu Manoel de Barros.
Enfim, quando a
tocha da paixão incandesce de Vida as ideias, ganha realidade o
processo transformador descrito pelo educador Paulo Freire: “Só desperta a
paixão por aprender quem tem a paixão por ensinar”.
(este livro de Clarice é apenas uma sugestão)
Nenhum comentário:
Postar um comentário