O filme “Filhos da Esperança”
(Children of Men ) se passa em 2027 . Nesse futuro próximo um estranho
acontecimento assola a humanidade : todas as mulheres do mundo se tornaram
estéreis, não nascia uma criança há quase 20 anos ! Por não ter mais futuro, a
humanidade não tinha mais projetos, planos, cultivos. Escolas e universidades
estavam fechadas. Também estavam fechadas as cadeias: para que prender alguém
visando sua recuperação futura se a própria sociedade estava sentenciada à
morte? O poder não prendia: “abatia” (
como faz o governador do Rio contra as
comunidades pobres). Obras de arte que hoje valem milhões eram encontradas
jogadas na rua. Simbolicamente, a esterilidade em questão é a perda do sentido
do futuro. A cultura, o conhecimento, a política, tudo se tornou estéril. A
única instituição que ficou mais forte era o exército, agora com sua verdadeira
face: uma facção miliciana contra a sociedade. Os conservadores acham que é o
passado a dimensão mais importante . Porém, mais do que conservação do passado,
a vida é abertura ao futuro. Se este corre riscos, toda obra humana parece
perder sentido.
Contudo, no meio do filme acontece
algo extraordinário e imprevisto: uma refugiada jovem, negra e pobre, muito
pobre, aparece grávida. A vida ensinava nova lição aos homens, reaparecendo não
no ventre de uma mulher da elite, tampouco no altar de um templo, mas no ventre
de uma marginalizada. Porém a jovem corria riscos, a milícia a queria morta. Um personagem um tanto
resignado até então decide agir e proteger a jovem grávida. Ambos fogem e se
escondem em um casebre abandonado no qual nasce a criança , sendo envolta em
farrapos improvisados como manta. Logo precisam fugir novamente e se escondem
em um prédio em ruínas onde muitos outros refugiados também se escondiam.
Diante do prédio, militares-milicianos atiravam sem parar contra os que estavam
lá dentro . O barulho era ensurdecedor. De repente, como se fosse um indignado
protesto contra toda aquela loucura, um chorinho começa a ser ouvido. Era o
chorinho do bebê recém-nascido. Pouco a pouco, os refugiados, pondo a própria
vida em risco, saem de seus esconderijos e esticam a cabeça para verem de onde
vinha aquele hino da vida inocente que há muito não ouviam. Um soldado ouve o
choro e cala a arma. Faz sinal para que um outro também pare. A criança era a
vida a afirmar-se resistindo à morte. Era somente a simples vida,
paradoxalmente tão frágil e tão forte. Com a criança no colo, a mãe passa por
entre os soldados e os vence sem precisar de armas. Passa diante deles não um
rei , príncipe ou figura do Poder, passa uma expressão singular da Potência. Se
o Poder é dominação ,entristecimento, e se vale de armas para se fazer
obedecer, a Potência é o querer viver que persevera se reinventando Novidade, futuro que renasce, para que em nós , quem
sabe, o mesmo perseverar também se refaça.
- músicas da trilha sonora do filme:
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