Nietzsche conta mais ou menos a
seguinte história: Imagine que um homem ultraconservador (como esses que
idolatram o bozo ) adquirisse o poder de
julgar a
vida colocando-a como réu a ser julgada . Ele poderia examinar sua própria vida como se fosse um
filme que ele assistisse de frente para trás, do presente para o passado, com o poder de “apagar” os acontecimentos que ele
julgasse não terem merecido existir, por não estarem de acordo com sua rígida
visão moral e religiosa. Então , ele
começa por examinar seus 20 anos e nessa idade vê que ele fizera coisas que não
merecia ter feito, como se embriagar muito, por exemplo. Assim, ele “apaga” de
sua existência esse acontecido. Porém, ele julga que a causa do “mal” está mais
atrás ainda. Ele vai até aos 15 anos e descobre aí coisas a apagar, como o ter se trancado no banheiro com revistas
pornográficas. Ele apaga essas coisas que a moral condena. Mas ele julga estar
mais atrás a causa do “mal”. Ele vai então aos 10 anos. Encontra também nessa
idade coisas a apagar, como o ter matado aula para ir jogar bola . Porém, o
“mal” parece estar em idade mais recuada : ele vai aos 5 anos e mesmo aí acha o que culpar. Talvez, ter
assaltado a geladeira para comer escondido o doce que a mãe proibiu, ou ter
brincado escondido de médico com a vizinha. Mas o “mal” parece estar mais atrás ainda. Ele vai
então aos 12 meses de idade, mesmo aí a moral acha o que condenar, talvez o
fato de o menino sujar as fraldas. O homem prossegue ainda mais no exame de sua
vida, pois crê que a causa do “mal” está mais atrás ainda. Ele se vê com três
meses, e se envergonha em ver-se sugando o seio da mãe, a isso ele apaga...Ele
vai ao 1 mês de vida, mesmo aí ele encontra o que condenar, talvez o chorar
muito ...Mas o “mal” deve estar mais recuado: o homem se vê com 1 dia de vida,
e mesmo aí ele encontra o que condenar e apagar, sabe-se lá o quê, talvez a
nudez do corpo. Ele vai mais atrás ainda: se vê com 10 minutos de vida, com 10
segundos, 9, 8, 7...3, 2,1...ele vai nascer...Ele pode julgar esse
acontecimento como um mal e apagá-lo? Se
ele julgar esse acontecimento como um mal e quiser apagá-lo, não seria esse
homem um ressentido, um doente, um louco? A vida é inocente, é preciso
protegê-la de tais homens, sobretudo quando
eles querem ter o poder de educar as crianças ou governar o Estado.
Visto sob o ângulo existencial, homens assim
odeiam ter nascido. E sua aspiração
para ter poder teológico-político não é para governar, mas para se vingarem daqueles que afirmam ,com o máximo de potência
que podem ,um sim incondicional à vida.
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