Segundo
Espinosa, o ódio não une ninguém. Quando A e B se unem para odiar a C, esse
ódio “comum” a C não torna A e B amigos, ou aliados, ou “companheiros”, ou
possuidores de uma “mesma perspectiva”, a não ser em aparência ou por
conveniência. “Odiar” é imaginar que a causa da nossa impotência se encontra exclusivamente
em algo externo. No exemplo, A e B imaginam que C é a causa de eles serem
impotentes. Então, eles unem suas impotências imaginando que daí nascerá uma
potência...Se C devolver o ódio recebido, então A e B se sentirão mais
justificados ainda em seus ódios . Porém
, menos mais menos é sempre um menos maior. Esse ódio de A e B a C
fará com que eles cobrem de D que este também “tome partido” , isto é,
também se una a eles no ódio a C. Se D a isto recusar, então A e B o acusarão
de servir a C...Ou então o acusarão de ser “neutro”, como se o fato de D fazer
parte do alfabeto nada significasse. Depois, A e B irão a E com a seguinte
alternativa: ou odeie C ou será odiado por nós. Talvez chegue o momento, o louco
momento, no qual A e B odiarão o alfabeto inteiro, “que se dane o alfabeto
inteiro, precisamos é destruir C antes
que ele nos destrua!”. Então, sem alfabeto, não há palavra, tampouco ideia a expressar
e defender, a afirmar. Não seria esse ódio de A e B a C, e de C a A e B, um
ódio mais profundo ao alfabeto?
Francis Bacon, Painting, 1946. |
( sobre o uso das 'reticências': faço um uso não gramatical das reticências. Elas não expressam apenas uma suspensão da frase, para assim imitar hesitações da fala, quando esta cede ao silêncio. Emprego quase sempre as reticências com intenção 'agramatical': faço silenciar o significante para deixar falar, em cada um, o pensamento).
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