Segundo Hesíodo, há cinco tipos
ou raças de homem. Cada tipo recebe como símbolo um determinado elemento. Há homens de ouro, de prata, de bronze, de
ferro e de barro. O sentido está na simbologia de tais elementos, e
não no seu aspecto literal, material.
O homem de ouro sabia andar na
companhia do divino. Não havia
entre tais homens e os deuses um abismo:
o homem aprendia a sabedoria sem precisar estudar em livros. O homem de ouro era sábio, mas não acadêmico
ou erudito. Inexistia escultura, pintura ou outra arte : o artístico era
a própria vida, composta mais de cores do que de formas. Os deuses não moravam
em templos, nem os homens em casas privadas: ambos habitavam a terra como chão e o céu como
teto, sem paredes, apenas horizontes. Porém, alguns desses homens passaram a se
achar representantes do divino e a falar por eles, com a intenção de obterem
poder sobre os outros homens. Os deuses então se afastaram, e tais homens,
sozinhos, desapareceram.
Os deuses criaram então os homens
de prata. Estes viviam 100 anos como crianças apenas. Viviam brincando nos
jardins onde nada faltava. E, cansados de tanto brincar, adormeciam sem demora.
Eles vivam na inocência de uma vida sem culpa. Após completarem 100 anos, os
deuses deixavam então que tais homens crescessem, para rapidamente envelhecer e
morrer, sem dor, dormindo. Porém, nem todos se contentavam apenas com o lúdico,
não poucos se tornavam tolos, caprichosos, enfim, “infantis”: choravam pela
presença dos deuses, exigindo que estes lhes fizessem favores e concedessem
privilégios. Assim, o ciúme crescia entre os homens-infantis. Os deuses novamente se afastaram, tais homens pereceram.
Uma nova raça de homens foi
criada pelos deuses: os homens de bronze. Estes eram corajosos e destemidos,
porém belicosos e querelantes. Ambicionam o domínio, a conquista , o poder. O
homem de bronze se tornou senhor da guerra, cobiçando glória. Contudo,
tornou-se também o lobo do outro homem, fazendo os vencidos de escravos .Os
deuses, sem piedade, exterminaram tais homens de bronze.
Foram criados então os homens de
ferro. Estes nasceram sob o fardo da necessidade: nus, precisavam cobrir o
corpo; famintos, necessitavam achar alimentos; fracos , sentiram que precisavam
se unir . Para tal, inventaram as leis e o Estado .Viviam mais ocupados com a
terra do que com o céu. Entre alguns deles , porém, não lhes satisfazia essa
vida rasteira, rasa. Entre esses insubmissos nasceu uma fuga, uma "linha
de fuga", uma iluminação:
dando às palavras nova função, diziam por elas o que lhes cantavam as Musas,
inventando assim a poesia. No meio da indigência nasceu o artista, o poeta,
para com a arte "celestar as coisas do
chão". Hesíodo foi um desses “celestadores”.
Havia ainda uma quinta raça por vir,
dizia o poeta. Essa raça nascerá sob a
marca do precário, do fugidio, do inconstante, do vazio (“vanus”, do qual vem
“vaidade”). O ser assim nascido será o homem de barro. Não o barro que a arte
vivifica, como as estatuetas de Mestre Vitalino. O barro desse homem de barro é
apenas o barro mesmo: matéria volúvel, oca por dentro.
Das épocas de ouro e prata ele
cobiçará apenas o metal, a parte
material, ignorando o simbolismo. Tal homem de barro nutrirá a mesma
sanha belicosa dos homens de bronze, porém desconhecendo as virtudes guerreiras
destes, sobretudo a honra. Dos homens de ferro eles herdarão as carências e
necessidades, mas não a riqueza visionária de seus artistas. A principal marca
do homem de barro, diz Hesíodo, será sua total insensibilidade a tudo aquilo
que não seja seu próprio ego, que é o oco (“vanus”) que o barro veste. Ocas
também serão suas palavras, sem verdade dentro. Ocas igualmente serão suas
ações, sem virtudes as movendo. Quando mortos, não deixarão obras ou exemplos:
serão apenas pó que espalhará o vento.
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