quinta-feira, 13 de julho de 2017

sobre o ódio

Segundo Espinosa, o ódio não une ninguém. Quando A e B se unem para odiar a C, esse ódio “comum” a C não torna A e B amigos, ou aliados, ou “companheiros”, ou possuidores de uma “mesma perspectiva”, a não ser em aparência ou por conveniência. “Odiar” é imaginar que a causa da nossa impotência se encontra exclusivamente em algo externo. No exemplo, A e B imaginam que C é a causa de eles serem impotentes. Então, eles unem suas impotências imaginando que daí nascerá uma potência...Se C devolver o ódio recebido, então A e B se sentirão mais justificados ainda  em seus ódios . Porém , menos mais menos é sempre um menos maior. Esse ódio de A e B  a C  fará com que eles cobrem de D que este também “tome partido” , isto é, também se una a eles no ódio a C. Se D a isto recusar, então A e B o acusarão de servir a C...Ou então o acusarão de ser “neutro”, como se o fato de D fazer parte do alfabeto nada significasse. Depois, A e B irão a E com a seguinte alternativa: ou odeie C ou será odiado por nós. Talvez chegue o momento, o louco momento, no qual A e B odiarão o alfabeto inteiro, “que se dane o alfabeto inteiro, precisamos é destruir  C antes que ele nos destrua!”. Então, sem alfabeto, não há palavra, tampouco ideia a expressar e defender, a afirmar. Não seria esse ódio de A e B a C, e de C a A e B, um ódio mais profundo ao alfabeto? 


Francis Bacon, Painting, 1946.


( sobre o uso das 'reticências': faço um uso não gramatical das reticências. Elas não expressam apenas uma suspensão da frase, para assim imitar hesitações da fala, quando esta cede ao silêncio. Emprego quase sempre as reticências com intenção 'agramatical': faço silenciar o significante para deixar falar, em cada um,  o pensamento).




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