Poesia é voar fora da asa.
Manoel de Barros
Quando estão dentro d’água e olham para fora, os peixes não
sabem que o mundo de fora é infinitamente maior que o mundo deles. Eles veem o
mundo de fora através do limite do mundo no qual vivem.
Porém, esse limite não é neutro ou transparente: a lâmina d’água altera
o que está fora, mas os peixes não sabem disso, e vivem mais a imaginar que veem do que de fato a ver sem imaginar. A maioria dos peixes tem medo e se afasta de tal
limite, embora os acompanhe, sem que eles saibam, a limitada imaginação.
Alguns peixes com pretensão de dominar os outros peixes, e temendo que tal curiosidade pelo que está fora abale a ordem do cardume, contam histórias acerca do que seria tal mundo de fora, e lá põem, sofrendo eternos castigos, os que morreram não tendo sido obedientes às leis e costumes do cardume ( "todo peixe bom", dizem eles, obedece à norma do cardume, desde tempos imemoriais) . Tudo o que esses peixes-governantes contam é inventado, porém torna-se verdadeiro pela ignorância que se ignora.
Alguns peixes com pretensão de dominar os outros peixes, e temendo que tal curiosidade pelo que está fora abale a ordem do cardume, contam histórias acerca do que seria tal mundo de fora, e lá põem, sofrendo eternos castigos, os que morreram não tendo sido obedientes às leis e costumes do cardume ( "todo peixe bom", dizem eles, obedece à norma do cardume, desde tempos imemoriais) . Tudo o que esses peixes-governantes contam é inventado, porém torna-se verdadeiro pela ignorância que se ignora.
Mas há aqueles peixes aos quais cardumes não aprisionam. Eles são estranhos, é verdade:
suas nadadeiras são um pouco maiores do que a de todos. Os peixes de nadadeira "normal" dizem que tal diferença é um castigo.
Porém, às vezes alguns desses estranhos tomam impulso com a
energia que desviaram da adaptação àquela vida em cardume.E vão ao perigo com a maior força que podem:avançam até o limite
daquele mundo do cardume e , sem medo, atravessam a fronteira daquele mundo conhecido: saltam para fora d'água,
desterritorializam-se ...
E as nadadeiras inábeis ao nadar homogêneo, ali se mostram em sua autêntica arte: a de serem o instrumento de potencialização da exploração de um novo meio, voando. Elas se tornam asas em rascunho, inauguramento de voo.
E as nadadeiras inábeis ao nadar homogêneo, ali se mostram em sua autêntica arte: a de serem o instrumento de potencialização da exploração de um novo meio, voando. Elas se tornam asas em rascunho, inauguramento de voo.
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