sábado, 14 de junho de 2025

Sobre o "niilismo"

 

Fala-se muito hoje do “niilismo”. Queria trazer outra perspectiva sobre o assunto, em razão da ascensão de certa mentalidade niilista que vem se manifestando sobretudo na política e na religião, no Brasil e no mundo.

“Niilismo” vem de “nihil” ,  expressão que costuma ser traduzida  por “nada”. O niilista, dizem, é aquele que não crê em nada.

Mas  “nihil” também pode ser traduzido por  “nulo”, sentido esse mais adequado para traduzir o comportamento e mentalidade niilistas. Pois o niilista é aquele cujas palavras, ações e visão de mundo são nulos, isto é, não têm autenticidade vital.

O niilista não é um ateu, o niilista é aquele que até pode falar muito em Deus, teológico-politicamente. Mas sua concepção de Deus é nula, pois seu   Deus ,ao invés do  amor, é evocado para vinganças e  ódios.

O niilista não é um deprimido, o niilista  pode ser até muito piadista (como o inelegível propondo a Moraes ser seu vice...), mas sua alegria é nula . É uma “alegria que nasce da tristeza”, como já diagnosticava Espinosa; e Nietzsche chamava de “niilismo reativo” a essa forma de vida triste.  

O niilista não é um apolítico, ele se envolve e faz política, porém sua política é nula:  prega ódio à democracia.

 Um dos antônimos de “nulo” é “fecundo” ou “potente”. O niilista é um infecundo:  no pensar, no agir e no falar.

 O niilista é aquele cujo viver é nulo, mesmo que viva cem anos. E enquanto ele viver, viverá ameaçando anular a vida dos outros...

 Sob a ânsia de  juros e  lucro da mentalidade capitalista , move-se uma pulsão-niilista. Essa pulsão, prima da pulsão de morte, reduz tudo a mera  mercadoria   para preencher  o vazio de nulas vidas com consumos escapistas.

 Mas nada atrai tanto o niilista quanto o ódio e a guerra. Guerra e ódio, a destruição cega, tornam objetiva a nulidade existencial do niilista. Território, petróleo, “ataque preventivo”, Deus...tudo isso é evocado como motivo de guerra pelo niilista. Mas o motivo mesmo é seu  ódio à vida.

 Num mundo conduzido por homens niilistas, o poder se torna máquina de ódio belicista ameaçando anulações recíprocas.

Que Gaia, Pachamama, enfim, a Mãe-Terra com sua Fecundidade e Potência  de Vida  nos protejam desses homens da guerra  ressentidos, vingativos e perigosos para toda a vida no planeta.

 

Obs.: Nietzsche fala ainda do "niilismo ativo ", que nada tem a ver com o niilismo reativo que descrevi. O princípio ao mesmo tempo ético, artístico  e político  do niilismo ativo é: “Só podemos destruir sendo criadores.”


(Imagem: “O núcleo da vida ou A criação”/ de Frida Kahlo)






Nenhum comentário: