Quem deseja
tecer deve partir de uma “urdidura”. Não importa se são tecidos, textos, ideias
ou ações que desejamos tecer: é sempre de uma urdidura que se parte.
“Urdidura” vem do
termo latino “ordo” (em português: “ordem”). Como ensina Espinosa em sua
“Ética”: em tudo há “ordo”, porém “ordo” não é tudo.
Toda urdidura é
feita de fios dispostos retamente, como um destino, e disso já sabiam as
mitológicas Moiras, que urdiam o destino dos seres humanos de maneira férrea,
aparentemente inescapável, como as barras retas de uma prisão. Mas apenas uma urdidura não forma um tecido de
vida: é preciso a “trama”.
A trama nasce de
um fio que passa transversalmente pela urdidura: a trama acrescenta ao férreo
destino a invenção de fugas, de “linhas de fuga”.
Toda urdidura é
sempre igual: reta e determinada. Porém, há múltiplas formas de se fiar uma
trama. Não há trama sem uma urdidura, isso é certo; porém não há tecido, de
pano ou social, sem a invenção de tramas.
Da “Moira
Social” que o urdiu louco, Arthur Bispo do Rosário reencontrou sua transversal,
seu “Fio de Ariadne”, e assim tramou sua lucidez como fuga da normalidade reta
dos que pensam igual.
Embora toda
trama parta de uma urdidura, nenhuma urdidura pode determinar que trama se
inventará a partir dela.
A gramática é
urdidura, porém trama é a poesia; a lógica é urdidura, mas pensar é trama;
família é urdidura, amor é trama; Estado é urdidura, sociedade é trama; código
jurídico é urdidura, justiça é trama; sistema político é urdidura, democracia é
trama.
“A reta é uma
curva que não sonha.” (Manoel de Barros)
“Não há linha
reta, nem nas coisas e nem na linguagem.” (Deleuze)
“Quero descrever
o voo de um pássaro
escrevendo com a
pena de uma asa.” (Guimarães Rosa)
“A opinião de que a arte não deve ter nada com a política já é em si mesma uma atitude política.” ( George Orwell / livro: Por que escrevo)
"Atravessamos tudo como a linha atravessa um tecido: formando imagens." ( Rilke)
(imagem : Bispo
do Rosário / foto de Walter Firmo. Aberto,
horizontado, o “Manto” de Bispo do Rosário se torna asas de
uma borboleta nascida de uma trama-metamorfose)
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