quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

trama e urdidura


Quem deseja tecer deve partir de uma “urdidura”. Não importa se são tecidos , textos, ideias ou ações que desejamos tecer: é sempre de uma urdidura que se parte. “Urdidura”  vem de “ordo”, “ordem”. Como ensina Espinosa em sua Ética: em tudo há “ordo”, mas “ordo” não é tudo.  Toda urdidura é feita de fios dispostos retamente, como um destino, e disso já sabiam as mitológicas Moiras, que urdiam o destino dos homens. Mas apenas uma urdidura não forma um tecido de vida: é preciso a “trama”. A trama nasce de um fio que passa transversalmente pela urdidura: a trama acrescenta ao férreo destino a invenção de fugas, de “linhas de fuga” e “rizomas” . As árvores possuem raízes urdidas fixamente no espaço, raízes que as tornam imóveis; já os rizomas são plantas  de horizontamentos  e conectividade : suas raízes são tramas-agenciamentos bordando novas paisagem .
Toda urdidura é sempre igual: reta  e determinada. Porém, há múltiplas formas de se fiar uma trama. Não há trama sem uma urdidura , isso é certo; porém não existe   tecido , de pano ou social, sem a invenção de tramas. Da “Moira Social” que o urdiu louco, Arthur Bispo do Rosário reencontrou sua transversal, e assim tramou sua lucidez como fuga da  normalidade  reta dos que pensam igual. Embora toda trama parta de uma urdidura, nenhuma urdidura pode determinar que trama se inventará a partir dela.
Gramática é urdidura, poesia é trama; cartilha   é urdidura, pensar é trama; família é urdidura, amor é trama; Estado é urdidura, sociedade é trama; código jurídico é urdidura, justiça é trama; sistema político é urdidura, democracia é trama.



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