quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

dioniso


Na Grécia, o carnaval nasceu como festa dedicada   a Dioniso, o deus das artes. Naquela época, Dioniso era o símbolo do “triunfo da vida”. Não o triunfo de uma vida sobre outra vida, mas triunfo da vida resistindo àqueles que a querem   morta, nos vários sentidos que a palavra “morte” tem. Segundo o mito, foi Dioniso que ensinou esse triunfo   aos homens.  Aconteceu assim : quando era ainda criança, Dioniso foi despedaçado pelos seus irmãos maiores, movidos por ciúme e inveja. Sabia-se que Dioniso tinha uma metade humana e outra metade divina, uma metade mortal e outra que nunca morria. Mas qual era a parte divina dele? Ninguém sabia...Exceto Zeus. Então, quando Zeus viu Dioniso-criança despedaçado, buscou entre as partes a que era divina, pois somente essa parte  pode resistir aos carrascos da vida. Era o coração a parte onde é mais potente a  vida. Zeus pegou o coração de Dioniso-criança e dele fez nascer novamente Dioniso. Isso explica seu nome: “Di-oniso”, “duas vezes nascido”. Quando nasceu a primeira vez, Dioniso veio ao mundo chorando, como  todo recém-nascido ; ao renascer , porém, Dioniso  saiu  do coração sorrindo , na alegria do   triunfo da  vida.  Esse triunfo não foi fruto de promessas ou esperanças, ele foi  obra da primeira das artes : a  arte de  tornar a vida de novo nascente, nesta vida e não noutra. Tal triunfo vinha acompanhado de uma potente alegria semelhante a uma embriaguez .  Não a embriaguez por excesso  alcoólico,    mas  a embriaguez  pelo excesso de vida .   Manoel de Barros, ébrio de poesia , chama  de “deslimite” a tal excesso que não deixa  morrer a vida: “Na ponta do meu lápis há apenas nascimento” (Manoel de Barros).

“É preciso embriagar-se...Mas  com quê? Com vinho, poesia ou virtude , a escolher. Mas embriaguem-se! ” (Baudelaire)





Em grego, “embriaguez” se escreve assim:  “bacchus”. Quando os romanos deram o nome de “Baco” a Dioniso, enfatizaram apenas um dos aspectos de Dioniso, não a sua simbologia como um todo: reduziram a embriaguez ( “bacchus”) ao estado provocado pelo vinho , ignorando que a embriaguez dionisíaca tinha originalmente muitos outros  sentidos. Imagem abaixo : “O triunfo de Dioniso”, autor anônimo, século III aC.


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