No filme “O descobrimento do Brasil”, o
cineasta Humberto Mauro recria o encontro dos índios com os “civilizados descobridores”.
Segundo os livros, tal encontro foi “amistoso”. Porém,assim que chegaram, os
colonizadores queriam “batizar” a terra
“descoberta”. Então, adentram a densa floresta , machados em punho. Ignorando
suas intenções , e desconhecendo o que era um machado, os índios os seguem.
Quando os colonizadores invadem certa
parte da floresta, os índios ficam tensos. Os invasores começam a apalpar as
árvores. A tensão entre os índios aumenta. Quando os invasores desferem a
primeira machadada em uma das árvores, os índios saem correndo, como se tal
golpe os tivesse atingido também. Os “civilizados” dão de ombros e derrubam
outra árvore. Com os dois troncos, fazem uma cruz para o primeiro culto. Na
praia, enquanto o culto acontecia, os
índios saem da floresta e se aproximam da cruz , lentamente ; no rosto, uma expressão de dor.
Chegam perto da cruz e a tocam , prostrando-se. Um dos invasores diz: “Vejam:
até esses animais que parecem homens se curvaram à nossa religião!”. Mas o que
os índios viam ali não era a cruz...Eles viam dois Ancestrais feitos
prisioneiros, sequestrados de seu território sagrado. Aquelas árvores
arrancadas eram um mesmo corpo ( ou significante) com dois sentidos imateriais
e ideológicos diferentes, e um dos sentidos queria exterminar o outro. Platão
achava que é somente no plano Imaterial e Ideal que cessam os conflitos, pois
lá viveria a “Verdade Pura”. Porém, no campo imaterial também ocorrem violências, explorações e assassinatos ( em nome de
“Verdades Puras”). Pierre Clastres chamava “etnocídio” tal violência simbólica.
O genocídio ocorre quando um povo mata o corpo e a alma de outro povo .O etnocídio
acontece quando um povo mata ou escraviza a alma e a cultura de outro povo para subjugá-las à sua. Quanto mais um
grupo imagina que somente os outros têm
“ideologia”, e que apenas ele fala e age pela tal “Verdade Pura”, mais etnocida será tal grupo .
E será um grande perigo se tal “ideologia purista” se assenhorar do aparato
policial do Estado, pois disso poderão resultar genocídios também.
(imagem abaixo: cena do filme/documentário “Ex-Pajé”,
de Luiz Bolognesi)
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